Pensando no Brasil que o Brasil não conhece

quarta-feira, 01 de agosto de 2012

Existe um Brasil que se desenvolve rapidamente, é diferenciado do Brasil convencional, trabalha, remunera bem seus profissionais e parece desvencilhado das atrapalhadas políticas que envolvem o triângulo Rio–Belo Horizonte–São Paulo.

Se para nós, deste eixo central, espanta pensar que uma mulher aos seus 23 anos dirige uma colheitadeira pelos campos de soja, domina a máquina computadorizada colhendo toneladas de grãos e maneja um GPS com maestria dentro de um ambiente climatizado, isso não é novidade para quem está em Tangará da Serra, Mato Grosso, onde o recrutamento dessas profissionais é feito nas faculdades de computação da cidade.

Esta região produz muito, envolve a reserva da Chapada dos Parecis, que é contínua e corresponde ao mesmo tamanho da Raposa Serra do Sol, no estado de Roraima. Quem não se preparou para o trabalho sofisticado do agronegócio, altamente rentável, acaba por contentar-se com serviços de mecânica pesada e troca de pneus.

Há no mundo do trabalho a presença feminina competente e bem formada tomando os postos de quem não estudou. O que se apresentava, no passado recente, como algo embrutecedor da mulher, nada representa seu trabalho real e sua realidade de vida. Não há os salões de festas das metrópoles, para tanto elas devem deslocar-se para as capitais, o que representa um custo que elas suportam porque seus salários são compatíveis com os valores dos deslocamentos.

Mas, como tal coisa pode ser feita se o ser humano do “interior” está distante de grandes centros, sobretudo centros de informação? Muito fácil de compreender. Nós vivemos a sociedade do conhecimento. No entanto, não adianta ter conhecimento, se não houver conexão. Com as infovias permitindo a comunicação pela internet não há diferença entre “interior” e metrópole. Todos podem estar conectados, basta haver dispositivo para eletricidade e, pelo sistema wireless a comunicação dispensa estes plugs.

Há uma conclusão clara em tudo o que foi aqui escrito: os conhecimentos de computação fazem parte de todas as profissões. Quem não tiver este tipo de conhecimento será um analfabeto digital impossibilitado de ter acesso à sua formação continuada, o que é uma exigência em qualquer profissão.

“Não há profissão do futuro e, sim, profissional competente do amanhã”, afirma Roberto Shiniashiky. Esta competência, inegavelmente, nasce das conexões permitidas nas mais diversas navegações através de linguagens próprias e, sobretudo da linguagem HTML, uma das mais potentes ferramentas de pesquisa. Quem renunciar a isto está fora do mercado. Ser for competente, dificilmente será encontrado.

A questão que ainda se impõe é se, apenas a formação é suficiente para superar as crises das ofertas de emprego.

Além da formação o profissional precisa ser ousado e, na visão de Jacques Atali, em sua “Breve História do Futuro”, um pouco nômade, ou seja: sair de onde está, buscar algum lugar novo e diferente, deixar as regiões saturadas e buscar outras onde a violência pode ser menor e o bem-estar social em nada dever àqueles que nós conhecemos.

Assim, um médico com especialidade em nefrologia tinha à sua disposição um salário de R$24.000 na cidade de Cacoal, Rondônia, para manejar um dos mais sofisticados complexos fornecidos pela Itália para aquela cidade. Ano passado contrataram um médico de São Paulo que assumiu o posto. Ao lado dele seguiu a esposa, publicitária, que descobre a cada dia que há espaço para sua profissão em Rondônia.

Competência aliada à ousadia e às conexões dá a qualquer profissional uma visão adequada para exercer suas funções com grande alcance social e realização pessoal.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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