O que falta para a educação brasileira melhorar?

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Críticos há em quantidade suficiente e o que se diz nas análises negativas comprovam que sabemos o que não devemos fazer. Resta saber o que devemos fazer, o quanto antes, para a educação brasileira dar o salto que as avaliações nacionais esperam e os mercados anseiam.

Desde o final da segunda grande guerra, em agosto de 1945, os países desenvolvidos iniciaram um processo de investimentos maciços em educação, embora alguns tenham já alterado o panorama sombrio em tempos anteriores ao conflito de 1914-1918.

Pressionado pelos mercados mais competitivos o Brasil iniciou este processo bastante atrasado, conseguindo ajustar quatro pilares necessários na década de 1990. Quatro partes do processo estão caminhando bem e resta, apenas, o aprimoramento. Vale dizer que, desde o ex-ministro Paulo Renato, até o ministro Haddad há projetos em andamento sem sofrerem descontinuidade.

Vejamos: praticamente todas as crianças em idade escolar entre 6 e 14 anos estão nas escolas. Toda criança na escola. Quem está distante conta com o transporte das secretarias de educação ou com os vales para uso no transporte público. Transporte escolar. Muitos carentes têm na escola a melhor refeição do dia e a merenda escolar é uma realidade. Praticamente em todas as regiões esses programas funcionam em parceria com as prefeituras. Alimentação para todos. Já que um bom estudo exige material escolar e livros, também nesse aspecto o Brasil atendeu bastante bem, embora nem todas as escolas consigam os livros escolhidos em primeira opção pelos educadores. Material escolar.

Então a mente das pessoas elabora uma pergunta importante: O que está faltando para que a educação deslanche?

Ficam faltando, exatamente, as medidas outras que os países desenvolvidos colocaram em prática e o Brasil engatinha. Às vezes engatinha mesmo com programas já estabelecidos.

O primeiro passo: adequar os programas que se usam nas escolas ao desenvolvimento psicológico das crianças além de adaptar os mesmos programas à realidade da vida e do mundo. Atualização dos conteúdos e praticidade dos conteúdos.

O segundo passo: melhorar o salário dos educadores e racionalizar a quantidade deles, entre atividades meio e atividades fim nas secretarias de educação e escolas das redes. Há municípios em que os salários são atraentes, porém, na maioria, são desestimulantes. As propostas do Fundeb (Fundo de Manutenção, Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais de Educação) criam sorrisos nas regiões mais pobres e não encantam nas regiões mais ricas, exceto naquelas onde a administração é um desastre tão grande pelo excesso de funcionários que nem uma excelente arrecadação garante um salário melhor. Vale dizer que se a relação assistêmica (divisão do total dos alunos pelo total de funcionários da secretaria de educação) for menor que ¼ não há milagres que sejam capazes de melhorar o salário dos educadores. Conheço um município em que essa relação é de 1/3,33!

O terceiro passo: a formação continuada dos educadores porque, com uma formação apenas secundária, não será possível provocar a transformação que a educação requer. Portanto investimentos em formação continuada são necessários em todos os níveis.

Quarto passo: tempo integral das crianças nas escolas. Assim elas poderiam estar fora das ruas, ter atividades complementares, desenvolver projetos diferenciados daqueles propedêuticos do turno acadêmico, participar da educação paralela e ter os reforços necessários para assimilar o que não foi possível com as aulas expositivas que assistiram.

O custo desses quatro pontos poderá sair mais barato se todos aprenderem e nós acabarmos com essa pedagogia de empurrar alunos que não sabem para a série seguinte, numa demonstração clara de ser uma pedagogia para pobre continuar pobre! A boa escola ensina e o aluno aprende. O custo acabará sendo menor porque as séries terão menor quantidade de repetentes e o retorno social do investimento será mais palpável.

Por onde começar, então? Numa visão cartesiana deveríamos estabelecer prioridades, numa visão sistêmica devemos pensar na implementação desses quatro tópicos concomitantemente.

Nós sabemos por onde começar e por onde implementar. Se isso não for feito os resultados dos exames nacionais continuarão a refletir os mesmos graus de desempenho dos alunos e a educação não dará o salto que a sociedade requer.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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