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O profissional na sociedade do conhecimento: interpretação de imagens
Quando éramos alunos do ensino fundamental, na década de 60, nossos professores aconselhavam a ler livros, nunca revistas em quadrinhos, cheias de imagens. Nós gostávamos dos quadrinhos e algumas revistas eram bastante interessantes. Nossos professores diziam que as imagens dos quadrinhos não eram palavras e, portanto, não enriqueceriam nosso vocabulário. Mesmo assim, várias propagandas tomavam conta das vitrines da cidade, e quem não se lembra, dentro dos trens e dos bondes, da propaganda da Emulsão Scott®, um preparado com óleo de fígado de bacalhau, de cheiro apavorante e gosto pior ainda? Mas, nossos pais mandavam beber, de quando em vez, até acabar o vidro, por ser considerado um bom fortificante.
Na falta dos Stresstab® e dos Centrum® de hoje ou das vitaminas importadas, valia esse óleo fedorento. O homem que carregava o bacalhau da embalagem ficou em nossa memória. Se o leitor nasceu muito depois dessa época, terá outras imagens na memória. Essa, para mim, fedia e revolvia o estômago. Pelo menos, é a sensação que tenho, agora, ao escrever este capítulo. No passado, trabalhava-se a imagem, porém, em pequena quantidade.
O Brasil vivia o ambiente verbal e convivia com o predomínio do rádio. A sociedade era auditiva e fazia um enorme esforço para ver o que estava acontecendo nas partidas de futebol conforme a narração do repórter. O locutor tentava, ao falar, fazer ver. Embora, é bom lembrar que a revista “Careta” fazia humor e criticava de modo criativo a ditadura de Vargas. A televisão já existia nessa época, e o jornalista Assis Chateaubriand, empolgado com ela, fez o governo brasileiro gastar 200 milhões de dólares de nossas divisas para comprar televisores, quando no País inexistiam os canais de televisão. Pelo menos é o que narra Fernando Morais, em “Chatô, o rei do Brasil”.
E os livros didáticos? Estes eram completamente secos, destituídos de imagens e cores, tudo era feito para uma espécie de país de daltônicos. Quando víamos um folder sobre algum país europeu, colorido e cheio de ilustrações, tínhamos de pensar que eles eram muito melhores do que nós, muito mais bonitos. Colorida era a bandeira nacional, nada mais. Chegou a televisão em preto e branco, e as imagens eram pálidas. Somente na década de 70, tivemos contato com a televisão em cores, e as imagens começaram a tomar conta das praças, das lojas e das casas. A luta das escolas em relação à cor e à imagem era muito grande. A luta contra o colorido era maior ainda. Uma roupa vermelha que vestisse Roberto ou Erasmo Carlos, à época da Jovem Guarda, era um escândalo. A luta contra as imagens e as cores fazia reviver a sobriedade, e as salas de aula de universidades e colégios representavam o capítulo ou o coro das igrejas medievais.
Mas ninguém segurou o avanço das imagens, nem na televisão, nem nas propagandas visuais por todos os outdoors de estradas e cidades. A invasão das imagens atrai as pessoas de tal forma que o psicólogo argentino Pavlowsky chama a tudo isso de “pornografia das imagens”. Este psicólogo não se refere a imagens por-nográficas, mas ao assédio de uma quantidade avassaladora de imagens que tiram das pessoas a possibilidade de refletir. As imagens são tão fortes que falam e refletem pelas pessoas. Vivemos, no entanto, uma era de imagens e, para tanto, as instituições que preparam o profissional do século em curso precisam ensinar às pessoas a interpretar as imagens de qualquer tamanho, quantidade e intenção. Não podemos fugir dessa realidade nem mesmo podemos deixar de usá-las; caso contrário, seria difícil o processo de comunicação com o público.
Ensinar a ler imagens é primordial para se compreender o mundo ao nosso redor e as variadas formas de comunicação entre as pessoas dentro deste mesmo mundo. O que mais facilita dentro das universidades e colégios e dentro de empresas que trabalham com designers ou web designers é a disseminação dos cursos que envolvem arte. Também as empresas, além das escolas, precisam visitar museus, exposições de arte e permitir que seus membros cultuem a arte, participem de feiras artísticas, e tanto as escolas quanto as fábricas e estabelecimentos comerciais precisam estudar com seus parceiros a força das imagens.
Além disso, é claro, necessitamos desenvolver um conceito a respeito de nossa própria imagem. Os trabalhadores, os balconistas, todos precisam, assim como os conferencistas, dar atenção à própria imagem, porque os consumidores, os alunos e os telespectadores leem a imagem de quem é comunicador, seja ele coordenador de tarefas dentro de uma empresa, seja ele professor ou conferencista. A imagem fala, mesmo que não abra a boca. Quando nos encontramos com uma plateia, imediatamente somos lidos por ela. Se ela não gostar da imagem, a comunicação estará comprometida. Imagem e postura corporal seguem juntas. Estudá-las é tarefa tão necessária, quanto falar bem e ser educado.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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