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Metade dos jovens brasileiros não cursa o ensino médio
Se este dado espanta, é bom que saibamos que já foi muito pior há duas décadas. Se considerarmos os dados sobre o ano de 2001 o quadro é alarmante e pode, perfeitamente, indicar uma das razões de tantos jovens aderindo ao crime, inclusive por falta de incompetência para o trabalho. Os dois mapas abaixo colhidos na edição de agosto de 2014, ano 8 número 40 da revista Escola Pública mostrarão em que situação estamos em relação ao panorama de 2001 e 2012.
Em 2001, mais de 70% de nossos jovens não cursavam o ensino médio nas regiões Norte e Nordeste. Nesta época, o Maranhão oferecia ensino médio em apenas cinquenta e um municípios dos seus duzentos e dez. O Centro-Oeste, excetuando-se a Capital Federal, amargava o dado alarmante de ter mais de 55% sem o ensino médio. O agronegócio era próspero e começava a faltar mão de obra. Para garantir bons serviços usando máquinas modernas e sofisticadas, os produtores rurais passaram a procurar pessoas gabaritadas em faculdades. Entregavam as colheitadeiras às mulheres que estudavam computação. Tal fato presenciei na região de Tangará da Serra, Mato Grosso.
Nesta mesma época somente o Sul, Sudeste e a Capital Federal estavam em melhor situação, mesmo assim um pouco mais de 40% não estavam nas salas de aula do ensino médio.
Podemnos afirmar, é verdade, que o quadro geral melhorou muito quando obnservamos o mapa em 2012. Todos progrediram, porém, não o suficiente para atender à demanda de profissionais técnicos com formação de ensino médio. O resultado é imediato e visível se compararmos, dentro da construção civil, as diferenças salariais entre os operários brasileiros e americanos e engenheiros brasileiros e americanos. Este dado me foi passado numa palestra feita pelo Sebrae de Pernambuco, na cidade de Ouricuri para 800 professores no último dia 13 de junho. Enquanto o operário americano ganha cinco vezes mais que o brasileiro, na construção civil, os engenheiros ganham somente uma vez e meia a mais. Por que de um lado há uma enorme diferença e, do outro, não? Simplesmente porque o operário americano tem uma formação com ensino médio completo, o que representa uma diferença gritante em relação aos nossos operários. Os engenheiros têm praticamente a mesma formação.
Vale dizer: o tempo de escola conta quando surge um emprego e se recebe dele o salário.
Em tempos recentes houve um incremento dos cursos técnicos, Institutos Federais Tecnológicos e escolas técnicas de ensino médio em vários estados brasileiros. Esta a razão da melhora que, se espera, continue crescendo.
Um distanciamento tornou-se claro e, ao mesmo tempo, preocupante, quando vemos que o Sudeste desgarrou-se do Sul na formação de sua gente. Há que se ter cuidado quando se afirma haver grandes diferenças entre o Nordeste e o Sul. O mapa é claro indicando que a formação dos jovens está colocando o Sul, o Nordeste e o Centro-Oeste no mesmo patamar. Tal semelhança pode ter efeitos num futuro próximo quando for exigida, cada vez mais, uma formação compatível com o desenvolvimento.
O quadro brasileiro aponta para a região sudeste como a única com capacidade para trabalhar o chamado leve e caro, enquanto os demais estão lidando com uma produção pesada e barata, onde não se agrega tanto conhecimento.
O tempo não nos favorece. Estamos atrasados em educação e esperamos que todos, desde o Ministério da Educação até as secretarias municipais de Educação, engagem-se numa luta acirrada para que o PNE II tenha suas metas atingidas. Este é o único caminho para que uma população laboriosa menor possa sustentar uma terceira idade que só tende a crescer neste século.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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