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Meritocracia em foco
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
O tema domina os noticiários. Governantes e sindicalistas enfrentam-se em simpósios e mesas de negociação. Ideologias acerca do tema vêm à baila sempre que estão abertas as negociações salariais.
Não é só esta a preocupação dos gestores. Há problemas de faltas, além do suportável, provocadas por inúmeras razões, desleixos com o acompanhamento dos alunos, situações de rejeição à formação continuada oferecida que corrói, em pouco tempo, o conhecimento e a motivação de um profissional.
A suposição preliminar neste debate é que as condições de trabalho sejam favoráveis à aprendizagem. Na verdade, quando um gestor, ao buscar menor despesa, reduz o número de turmas numa escola e cada sala de aula fica apinhada com mais de 45 alunos, o aprendizado pode estar comprometido sem culpa por parte do docente.
A questão central é evidenciada quando os gestores desejam aumentar os salários em função dos resultados da aprendizagem, na suposição de que tudo recai sobre as "costas” do docente, transformado em único culpado pelos êxitos ou fracassos do sistema vigente.
A primeira conclusão a que chego é que só posso pensar em meritocracia se ofereço condições de trabalho compatíveis com os resultados esperados. Nesse sentido, entendo que os sindicatos têm a obrigação de alertar quando a premiação de mais salário é observada somente de um lado da balança, qual seja, a do profissional que está em sala de aula.
Mas há problemas que podem comprometer a classe do magistério. Quando um profissional quer usar o tempo de formação continuada para trabalhar em outra escola, quando falta de modo irresponsável, quando não prepara aulas devidamente, quando enxuga programas deixando de lado assuntos importantes que possam comprometer o aprendizado nos anos seguintes, então o gestor não se convence de que este profissional deva ter um aumento salarial significativo
A meritocracia é natural num empreendimento qualquer. Nós não permanecemos com o mesmo mecânico de motocicletas se ele não for competente. Um clube não contrata um sistema de som se o profissional não estiver atualizado. Ora, tanto um quanto outro, dentro de situações diferentes, devem ter aprendido algo mais para oferecer segurança profissional a quem os contrata.
Numa escola particular o professor falta menos, chega no horário estipulado, é supervisionado pela escola, é cobrado em relação ao real e indiscutível aprendizado dos alunos e, se não atender a esses requisitos, poderá ser demitido ao final do ano. Por conta própria ou da escola, a formação continuada é procurada ou oferecida.
No sistema público há o perigo do profissional ser relapso, não atingir metas desejadas pelo gestor e pela sociedade e continuar atuando de modo relaxado, apoiado na estabilidade conferida pelo seu contrato.
Nesse segundo caso, chego à minha outra conclusão: se o gestor oferece condições de trabalho e de formação, ele pode e deve exigir o cumprimento do contrato de trabalho firmado entre as partes. E, num segundo passo, premiar com abonos ou mudança de patamares salariais os que realmente merecem.
O erro sindical será apresentar-se contra a meritocracia por acobertamento dos deslizes cometidos por seus filiados.
Todos nós, escritores e palestrantes, temos de estar estudando constantemente, lendo sempre, aprimorando-nos no dia a dia. Escrevemos num periódico, um contratante nos chama para uma conferência, sempre em função da avaliação de leitores ou plateias.
O mérito é medido continuamente.
Chego à minha última conclusão: a avaliação profissional. O mérito depende da avaliação. Esta avaliação só tem sentido e valor se for continuada. Avaliar o desempenho somente num momento do ano letivo pode apresentar distorções, comprometendo o processo. O mérito precisa ser levado em conta; no entanto, trata-se de algo complexo, que envolve uma avaliação do profissional e do sistema em que ele está inserido.
Por fim, lembro ainda que o aprendizado só melhorará se o docente estiver atualizado. Se isto ocorrer, as reprovações diminuirão, os profissionais necessários podem existir em número menor e os salários passarão para patamares maiores. Isto também é mérito que atinge a toda a classe.
Portanto, não será um gesto, não será uma única avaliação que deverá definir o mérito. Deverá ser um conjunto de medidas avaliativas, onde profissional e sistema estarão sendo observados. O que não podemos continuar a assistir é num mesmo sistema e nas mesmas condições termos escolas de padrões diferentes, algumas com excesso de diferença. O contribuinte tem o direito de exigir que algumas medidas administrativas devam ser tomadas.
Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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