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Mário Roberto Lima - 30 de dezembro.
Quando um gênio morre, a humanidade perde um pouco de sua essência. A nossa sorte é que o legado deixado nos conforta e, muitas vezes, conseguimos aproveitar de alguma forma o que nos foi ofertado.
O falecimento de Mário Roberto deixou a família dele, os amigos e colegas de luto, porém, ao mesmo tempo, confortados pela grande utilidade de uma vida.
Recordando momentos de sua adolescência, lembro-me do “laboratório” científico nos fundos da casa do Dr. Bohrer, onde ele e Guilherme César faziam experiências e adoravam assustar seus professores. Era, apenas, o início do gênio que nascia. No ensino médio tornou-se um auxiliar do Padre Maurício Ruffier, no laboratório de física do Anchieta, o que lhe valeu, mais tarde, quando professor, usar um laboratório que se tornou bastante familiar para ele.
Pensando em seu trabalho de magistério, lembro-me de quantas vocações para a física foram despertadas. Minha memória passa pela pessoa do físico e doutor em física pala UFRJ Dr. Barucke e pelo Osvaldo Lucho, da Gigalink, que conheceu as fibras óticas através do Mário Roberto.
Quando abri um e-mail com as informações sobre seu velório – e vinha da Gigalink, que o citava como amigo e colaborador – voltei no tempo e recordei as feiras de ciências, onde um adolescente lidando com a efervescência das novidades apresentou trabalhos premiados com pedaços de fibra ótica conseguidas pelo Mário na Unicamp.
Nova Friburgo tem, entre outros modelos, um sistema que usa a internet por fibra ótica e tudo começou quando Osvaldo Lucho era adolescente e despertava para uma outra realidade quando poucos nela acreditavam.
O gênio tem a capacidade de lançar sementes e isso nosso amigo foi capaz de fazer. Muitas vezes incompreendido porque pensava além de seu tempo, não desistia de suas buscas e até perdia a paciência quando alguns alunos não demonstravam interesse por saber mais.
Esbanjava criatividade e curiosidade. Se de um lado dava aulas de física no ensino médio e, depois, na Faculdade Santa Dorotéia, não lhe faltavam momentos para regular a temperatura em estufas, num município vizinho, visando a produção de cogumelos.
Viveu para a ciência e esqueceu-se de si mesmo. Tal foi esse esquecimento que não percebia as necessidades de mais cuidado com a dieta alimentar e, cada vez mais, embrenhava-se pelo mundo das descobertas.
Acordou para si mesmo quando o organismo estava combalido pelo diabetes e determinava a queda acentuada da visão que já era comprometida.
Para essas pessoas que escapam à mediania dos mortais, a dimensão da vida é outra. O dia a dia cede lugar à busca incessante pelo desconhecido e este “si mesmo” que anda junto com a gente a vida inteira fica um pouco triste quando percebe que perde as batalhas para um concorrente que, sequer, há certeza sobre sua existência.
Edgar Morin, citando Heráclito na entrevista a Djénane Tager, relembra duas passagens intrigantes: “se não procuras o inesperado, não o encontrarás” e, noutra citação: “acordados, eles dormem”.
Se, para nós, Mário está dormindo, para o criador ele está acordado; e, se nós dormimos, é por causa da falta do desejo de procurar o inesperado e o imprevisível.
É imprevisível, mas, mesmo assim, tentarei ainda hoje um e-mail: marioroberto-ceu@gigalink.com.br; faço isto na confiança que a internet banda larga não é tão moderna assim, data de uma passagem do novo testamento quando Cristo diz a Pedro: “tudo o que ligares na terra, será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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