Ideb: não é bom, mas já foi pior

terça-feira, 07 de outubro de 2014

Muita euforia e comemoração diante dos resultados dos dez melhores índices relativos aos estados brasileiros no tocante ao ensino médio. Alguns comemoram saltos de mais de dez posições. Tudo isso seria fantástico se estes resultados estivessem fortemente caminhando na direção da meta estabelecida. Mas, na verdade, os melhores estão todos abaixo do nível de 40% de aproveitamento. Continuando a caminhada com este passo, o melhor dos estados chegará à meta proposta de 60% somente em 2035!

Nada bom. Esta é a conclusão mais simples. Válidas as comemorações, simplesmente porque já foi muito pior. Saltar de 2,7 para 3,6 em cinco anos pode ser uma proeza, no entanto a performance está muito aquém do desejado.

Mas, afinal, onde está a raiz do mal? Seriam os salários dos professores, as ingerências político-partidárias na educação, as condições de trabalho, o currículo, a falta de laboratórios... o que seria, então?

Parece-me que há uma distância muito grande entre o que o MEC deseja e a educação que interessaria aos países da OCDE e o que se faz em sala de aula.

Enquanto o Ministério da Educação publica descritores para cada disciplina e avalia em função deles, as aulas são ministradas sem levar em conta esta questão. Se há sistemas de ensino que preparam o material didático em função desses descritores, os professores que usam livros didáticos devem adequar os conteúdos aos descritores, o que, na realidade, poucos fazem.

Na verdade, estão preparando os alunos para uma avaliação que não será feita. Nem estão avaliando, nas escolas, conforme este exame é avaliado: pela teoria da resposta ao item.

Tais observações valem para todo o ensino médio das escolas públicas e particulares. Todo o sistema está estagnado. De um lado, o governo, propondo interdisciplinaridade, temas transversais e descritores; do outro, as escolas e seus coordenadores e professores trabalhando cartesianamente. Num momento em que a discussão principal é a da eliminação do conceito de disciplina, muitas escolas conseguem dividir ainda mais. Além de língua portuguesa ser lecionada sem relação à história e sociologia, conseguem dividi-la entre redação, literatura e gramática. Há, portanto, um erro de estratégia que só será corrigido quando o Ministério da Educação e as escolas estiverem falando a mesma língua.


Professor Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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