A escola educadora - Parte 2

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Uma escola educadora, na visão do dr. Carlos Vilar Estevão, será uma escola do cuidado que desenvolverá a ética do cuidado. Não se trata, apenas, de criar espaços para a participação eventual dos pais, como as festas de aniversário, as festas juninas e as celebrações de caráter cívico ou religioso. Mais ainda, não se trata de colocar nas mãos dos pais as funções da escola para que os pais venham a suprir o que inexiste de competência por parte da escola ou do sistema educacional que pode ser público, federal, estadual ou municipal. Nesse sentido, o programa “amigos da escola” sugerido pelos canais de televisão, dá a clara impressão de que os pais fazem o que é obrigação do sistema fazer. Não vejo erro grave, a não ser enquanto se evita explicar a real situação, ou seja: já que o sistema público não dá conta de suas obrigações, vem a incentivar as famílias a suprir aquilo que deveria ser obrigação do mesmo sistema.

Toda essa estrutura foi copiada das paróquias onde os fiéis não recolhem dízimo e procuram supri-lo com as festas em torno do templo religioso para que se possa ter um melhor som, uma pintura nova ou similar. No caso das escolas públicas já há o pagamento dos impostos e, nas particulares, o pagamento das mensalidades. Caso bem diferente é aquele onde, associações de pais, em escolas particulares, fazem movimentos de solidariedade para comprar material escolar para alunos eventualmente bolsistas. Contornam um problema de outro tipo porque a escola concede a bolsa, mas não tem condições de fornecer também o material escolar.

A visão da escola educadora, portanto, desenvolve o sentido do cuidado com as pessoas e, mais que isso, fidelidade às pessoas. O respeito pela individualidade de cada um, conjugada com os interesses coletivos e com a lealdade a esse mesmo coletivo, além de representar o cuidado que se requer, deve indicar os caminhos da convivência dentro dessa comunidade escolar.

Não se pode, então, conceber uma escola educadora sem a participação dos pais. A cooperação, as relações personalizadas e a celebração da amizade fazem parte desse suporte. Assim, não se trata de organizar um grêmio estudantil contra a escola e sua filosofia educacional, nem uma associação de pais, contra alguma coisa dentro da escola. Trata-se, sim, antes de tudo, de criar associações que convivam com a escola e na escola desenvolvendo ações a favor dos menos favorecidos e tendo a bondade como critério de discernimento.

A convivência e a análise dos critérios de qualidade da escola educadora não está em seu aparato jurídico-educacional, a não ser que esse instrumento seja já, o reflexo daquilo que lá se vive. Não se trata de burocracia bem travada e explicitada através de funções descritas e prescrições claras e distintas, mas do desenvolvimento de uma autonomia vivida em solidariedade com os membros da comunidade educativa.

No sentido mais amplo do termo autonomia, chegamos ao ápice da educação de um cidadão consciente, ou seja, aquele que, tendo nascido na anomia, passou pelo período da heteronomia e, finalmente chegou ao nível de cidadão autônomo, pronto para respeitar e ser respeitado e pronto para viver, conviver, fazer e, sobretudo, ser.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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