Entre nômades e hipernômades

sábado, 31 de julho de 2010

A primeira reação quando falamos em nomadismo é a visão de um povo errante, sem destinos definidos e sem metas específicas. Levar esta ideia a um profissional nesta década do século XXI pode parecer absurda e causadora de alguma repulsa.

Nomadismo reflete uma vida cigana, lembra os curdos deslocando-se na fronteira entre Iraque e Turquia e, em suma, tudo o que já foi considerado ultrapassado pela civilização patriarcal indo-europeia que se estabeleceu justamente através do sedentarismo, admitindo algumas práticas nômades de menor profundidade como a transumância e os movimentos pendulares. Enquanto um refletia a vida de pastores que buscavam pastagens férteis e se deslocavam para as montanhas e, depois, retornavam aos vales, o outro representa o deslocamento diário entre centros de trabalho e de moradia, onde ônibus, metrôs e barcos se deslocam transportando as pessoas de casa para o trabalho, retornando ao final das tarefas.

Uma breve história do futuro, livro importante para ser lido por qualquer pessoa em fase de escolha de uma carreira profissional, aborda através do estilo claro e preciso de Jacques Atalli, a questão do profissional nômade, hipernômade e infranômade como estratégias para exercer bem qualquer profissão neste século de incertezas.

Se qualquer carreira profissional apresenta incertezas e as pessoas migram de uma função para outra em curto espaço de tempo, se as mudanças de profissão ocorrem várias vezes durante a vida ativa, nada melhor para enfrentar esses transtornos e transformá-los em oportunidades que a visão do moderno nomadismo.

O nômade não trabalha em local fixo. Este time é formado por consultores e assessores que circulam entre regiões, cidades e países, através do nomadismo físico ou do nomadismo virtual das infovias conhece pouco a distância entre a casa e o escritório. Lançam-se mais além.

Muitos eventos profissionais, tais como congressos e simpósios são nômades. Hoje ocorrem numa cidade, amanhã noutra. Os eventos nômades exigem profissionais, palestrantes, expositores, por sua vez hipernômades que, praticamente, vivem em deslocamento. Se o evento é atrator, também ele provoca o deslocamento momentâneo de algumas pessoas que ali se encontram porque o evento foi organizado. Pode ser o vendedor de café, fazendo a divulgação de sua marca, como o fotógrafo que documenta a presença das pessoas naquele evento. Esses são os infranômades. Eles residem nas cidades onde os eventos ocorrem, deslocando-se até eles por interesses momentâneos, porém, se permanecessem em suas oficinas, nada produziriam porque o evento tem local definido e os profissionais é que se deslocam até eles.

O profissional, por mais adaptado às tecnologias, por mais capaz de se articular em seus blogs, tweters e sites, se não for capaz de se adaptar às locomoções variadas para participar de cursos, executar tarefas e assessorar empresas, em pouco tempo estará com seu prazo de validade vencido.

A tecnologia de ponta pode determinar que em dois anos sem atualização, o profissional daquele setor esteja ultrapassado. Certas profissões exigem atualização diária, portanto, na sociedade do conhecimento só vale quem tem conhecimento, só serve a empresa que desenvolve conhecimento. As máquinas ajudam, porém, sem o conhecimento das pessoas não sustentam empresa alguma.

Para tornar-se um profissional eficiente e eficaz o nomadismo é uma exigência da sociedade das incertezas, onde “tudo corre, tudo passa e nada permanece”.

Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e conferencista.

www.hamiltonwerneck.com.br

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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