Entre Edgar Faure, Edgar Morin e Mangabeira Unger

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Acabei de ler os 13 pontos apresentados por Mangabeira Unger, Ministro para Assuntos Estratégicos focando a educação brasileira. Imediatamente pensei no relatório Faure publicado a pedido da Unesco em 1971, cuja coletânea foi intitulada: Aprender a Ser. Os quatro pontos para a educação que surgiram no Brasil no final do século XX, com 30 anos de atraso, estavam refletidos no aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. Estamos lutando até hoje com essas questões e a escola brasileira não consegue colocar em prática estes quatro tópicos e continua entendendo que a educação só funciona com repressão. 

Não tendo surtido o efeito desejado, por iniciativa do então presidente da França, François Mitterand, o filósofo Edgar Morin reuniu um grupo de especialistas para propor em Religação dos Saberes uma prática da teoria da complexidade, instigando as escolas para uma visão que superasse o cartesianismo a partir da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Nós já estamos na metade do segundo decênio do século XXI e nem o relatório Faure, nem o Religação dos Saberes conseguem invadir as gestões educacionais brasileiras. Nossos sistemas de ensino não foram atualizados, a metodologia está atrasada, os sistemas de avaliação ultrapassados. Tudo continua com programas do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI. Prepara-se, no país, um aluno para ser desempregado ou para ganhar pouco salário, porque o objetivo será lidar com o pesado e barato. Enquanto isso, a Finlândia pretende preparar pessoas para lidar com o leve e caro, através de uma educação que se transforma, para eliminar as disciplinas segmentadas e aderir aos temas transversais e fenômenos.

O que Mangabeira Unger propõe nos seus 13 pontos é um alerta necessário para uma reflexão urgente que redirecione a educação brasileira. Nós temos pouco menos de 20 anos para esta transformação, caso contrário, nossas próximas gerações não serão capazes de produzir a ponto de sustentar a terceira idade que só tende a crescer.

E o que mais me espanta, embora fosse esperado, é que já se passaram duas semanas da publicação do Ministério para Assuntos Estratégicos e os comentários, sobretudo na imprensa, são quase nulos.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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