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Eleições na visão de um professor II
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
As pessoas perguntam após as eleições se a câmara de vereadores melhorou ou piorou. A pergunta que me faço é outra: o que significa melhorar ou piorar? A questão mais importante que coloco é a da representatividade. Na década de setenta, quando os vereadores nada recebiam pelo mandato e Nova Friburgo atingia 70.000 habitantes, o número de cadeiras era de dezessete. Mais tarde chegamos a dezenove. Isto significa que a precipitada lei que reduziu o número de vereadores criou para Nova Friburgo uma queda na representatividade. A cidade cresceu, ultrapassou 180.000 habitantes e passamos a ter doze cadeiras na câmara. O resultado disso foi a quantidade de bairros e distritos sem representação, embora o vereador eleito o seja para toda a cidade.
Outros ainda perguntam se a câmara de vereadores seria melhor com edis portadores de diploma de nível superior. O que mais me importa, mais uma vez, é que a câmara represente um recorte da sociedade friburguense. A cidade precisa estar ali representada como se fosse uma pequena foto de sua população. Com vinte e um vereadores esta foto é melhor que na época dos doze. A cidade está mais representada, embora o nível de formação seja diametralmente oposto à realidade. Qual é a realidade de Nova Friburgo nesse aspecto? O maior número de pessoas tem formação básica, um grupo menor, formação média e, finalmente, o mais restrito, com formação superior. A câmara é o contrário disto. Dos vinte e um vereadores, 10 possuem curso superior completo; 6 tem formação de ensino médio e, apenas 5, ensino básico.
Na verdade, o ensino superior deve trazer consigo o exercício da liderança e notamos este aspecto ao analisarmos os resultados. Se me perguntarem pelas ruas se houve melhora, responderei que sim, com toda a segurança. A cidade tem uma representação melhor e mais bem distribuída, embora possam ainda surgir alterações. Os vereadores apresentam serviços prestados ao município ou ao seu bairro, associação de moradores ou sindicatos de classe. Pelo nível de escolaridade da casa não restam dúvidas sobre a capacidade de compreensão das complexidades que ali aportam: indicações, projetos de lei, orçamentos e fiscalização do poder executivo.
Também dos vereadores, a humildade ao assumir o mandato será exigida, sobretudo porque saberão que pouco mais de sessenta mil friburguenses não se comoveu com os 334 candidatos postulantes ao cargo. Para esses friburguenses que anularam o voto, não compareceram às urnas, votaram em branco ou na legenda, nenhum dos postulantes conseguiu motivá-los para merecer o voto no dia 7 de outubro.
Há um voto que entra na urna e outro que sai da urna! Os votos e recados que saíram das urnas gritam aos políticos que eles têm mais quatro anos para melhorar a imagem da classe perante a população. Além disso, parece-me claro que os eleitores enviam outro recado para legisladores de câmaras mais altas: chega de obrigatoriedade. O voto democrático precisa com urgência ser livre. Imposição e democracia não combinam. Por isso é importante ler o que não está escrito e tentar entender a voz do silêncio.
Prof. Hamilton Werneck
é pedagogo, escritor e palestrante
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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