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Eleições na visão de um professor
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Enquanto muitas pessoas ficam obcecadas com as notícias e os resultados, minha preferência é observar o que não foi dito, uma espécie de contemplação do silêncio, na tentativa de entendê-lo.
Semanas antes da eleição, a cidade mantinha um silêncio além daquele determinado pela Justiça. As placas fixadas em residências eram menores que em eleições passadas, os cavaletes não eram ostensivos e os carros de som dentro dos limites dos decibéis suportáveis pelo ouvido.
As eleições foram concluídas com o mínimo de incidentes e a apuração rápida e sem transtornos. Após pequenas comemorações naquela noite de sete de outubro, voltamos a um silêncio ainda maior. E não se fala mais em eleições, o que se justifica pelo fato de não termos segundo turno.
Quais as análises em relação a esses fatos? Trata-se de uma questão sociológica porque a sociologia lida com o fato social. Há muita coisa positiva em relação à campanha, à ação da Justiça, ao comportamento político do eleitorado e ao uso de tecnologias já aplicadas em eleições anteriores.
Há também o que nos leva a pensar, inclusive sobre a razão do silêncio. 36% é o tamanho do silêncio da abstenção, somada aos votos nulos e brancos. O total desta soma: 52.958! Preocupa. Mais ainda se considerarmos a mesma observação que fiz após as eleições de 1997, quando esta mesma soma atingia 25.000 eleitores.
Em quinze anos mais que dobrou a insatisfação e a indiferença. Parece-me que os adolescentes e jovens entre 16 e 18 anos, e que têm a opção de votar ou não, estão desiludidos e menos participantes que em décadas passadas, embora não tenhamos pesquisa nesse sentido. Esta postura pode ter aumentado de modo significativo a quantidade de pessoas que se abstiveram. Quanto ao voto nulo e branco não é a mesma coisa. O eleitor encontra seu título, sai de casa e anula o seu voto ou então, vota em branco. Devemos acrescentar a tudo isso um voto válido somente para a legenda e, não, para as pessoas, em se tratando de vereador. Esta soma atinge 7.109 votos. Portanto o total de eleitores que não sufragou seu voto em candidatos soma um total de 60.067 votos. Isto representa 40,8% da população eleitora da cidade.
Há uma triste conclusão: quase o dobro de votos do eleito é o voto insatisfeito, desiludido e marcado pelo silêncio. Quem lê, portanto, este silêncio, sente-o como assustador!
A palavra humildade vem de “húmus” que significa aquela terra boa para as plantas. No nível do húmus, no nível da terra, todos nós nos igualamos: ricos, pobres, homens, mulheres, idosos e crianças.
A mais importante palavra que retiro deste silêncio que preocupa é a “humildade”. Os eleitos para todos os cargos precisam assumi-lo com cautela e com a humildade para tentar reverter este enfaramento político, silencioso sim, porém gritante como um aviso urgente de socorro que tem o seu significado: descrédito, desengajamento, desilusão e desesperança diante dos políticos e da democracia. A missão dos eleitos será árdua e desafiadora!
Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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