Avaliar ou examinar? (Parte I)

terça-feira, 02 de setembro de 2014
Foto de capa

Olhando esta imagem de uma agulha no palheiro, costumo perguntar quais os métodos modernos para acharmos este objeto. A maioria pensa em agulha para ser encontrada por um ímã, podendo ser um detector de metais, uma lupa e até uma medida extrema: colocar fogo na palha. O método tradicional é lembrado e inclui enfiar a mão na palha, espirar, lacrimejar, tossir, mas, ao final, achar a agulha.

Não se trata de uma brincadeira. Vamos pensar de modo um pouco diferente. Primeiro pensemos, por exemplo, que podem existir agulhas diferentes. Umas são metálicas, outras de plástico, outras ainda de madeira e algumas de osso. Se estas agulhas representam tipos diferentes de alunos, conforme a ferramenta de avaliação usada, somente algumas serão encontradas. No caso do ímã, somente as agulhas metálicas; as demais estarão perdidas no meio da palha, o mesmo ocorrendo com o detector de metais. Se a lupa aumenta os espaços vazios, o tamanho da palha e da agulha, a mesma situação se repete, apenas ampliada. O fogo na palha destrói todas as agulhas, menos as metálicas grossas. Concluímos que não há outra solução melhor, senão a de enfrentar o problema, colocando a mão na massa para atender às diferenças individuais.

Esta metáfora pode ser encontrada na realidade da sala de aula quando nos deparamos com uma turma de 40 alunos, onde apenas dois deles lograram aprovação. Trata-se de um professor que, ao ensinar, usa uma linguagem apenas captada por um grupo mínimo, tornando-se sobrevivente de uma ação excludente e muito semelhante ao ato de atear fogo à palha!

Não é justificativa correta aquela em que o professor afirma que se, se pelo menos dois alunos conseguiram aprender, é sinal que ele ensinou e não poderia ser chamado por uma coordenação pedagógica para rever seus métodos. Quando apenas um grupo muito pequeno aprende é sinal que houve ensino com uma linguagem apropriada para eles. Os demais não entenderam o que o professor apresentou em aula. Nós não podemos considerar uma avaliação como boa e correta se a fizermos dentro da ótica dos exames e fora da sintonia com o ensino. E, como aprendizagem é mais importante que ensino, a avaliação deve ser abrangente, o que o exame não permite por não apresentar interação entre o professor e o aluno e, também, excluir a avaliação do sistema em suas práticas.


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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