Analisando o Ideb de outros ângulos

quarta-feira, 19 de março de 2014

Há uma análise ufanista do Ideb, geralmente da mídia que apoia o governo e dos próprios órgãos governamentais. Neste último exame, as alegrias justificam-se por causa da primeira fase do ensino básico, onde o aumento do índice foi maior.

Este aspecto é bom, sobretudo porque estamos tratando a base da pirâmide educacional, numa época em que as crianças já devem ter o domínio da leitura e da escrita. Daí para frente, é preciso ler para aprender.

Não há o que comemorar na segunda fase do ensino básico. Se, por um lado, os professores devem ter formação de nível superior, por outro, as resistências quanto às mudanças das metodologias do ensino acabam por impedir um crescimento dos índices. As atividades de formação continuada nessa fase são pouco aceitas e os docentes licenciados têm a impressão de que nada mais precisam aprender. Provavelmente, a maior humildade dos professores da primeira fase da educação básica pode estar facilitando essa melhoria verificada.

Ressalta aos olhos os altos índices de escolas localizadas no interior, onde a vida é simples e as sofisticações são menores. No entanto, há que se registrar que essas cidades sofrem menos com a presença de profissionais relapsos, com greves intermináveis e se beneficiam de uma supervisão mais próxima, onde todos são conhecidos dos demais habitantes.

Quanto ao ensino médio, só há o que lamentar. Trata-se do grande gargalo provocado pelos intermináveis currículos, pela falta de professores qualificados e pela maior segmentação das disciplinas. O ensino médio carece de uma reforma profunda que atinja uma revisão curricular e metodológica.

A clareza de uma análise há de se ater a um dado especial: se as escolas públicas continuarem crescendo no mesmo ritmo, para alcançar os índices de hoje apresentados pela rede privada, levaríamos doze anos na primeira fase do ensino básico e quatorze na segunda fase. Vale dizer que a recuperação está lenta demais para atender às exigências que o mercado de trabalho fará a quem a ele se apresentar.


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.


TAGS:

Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.