A manifestação líquida

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Seria bom voltarmos a ler Zigmunt Baumann, em Vida Líquida. O mundo está assim, é fluido, ninguém sabe quem lidera, no entanto, eles devem existir. São líderes virtuais. E, como a classe média, a que mais paga imposto, embora como os demais brasileiros não veja muito retorno é ela que está mais presente nas redes sociais. Isso pode ser constatado pelos óculos escuros de grife usados pelos manifestantes, pelas roupas e pelos tênis de marca.

Parece claro que tudo está além dos centavos acrescidos às passagens de ônibus. As questões de inflação, corrupção e, sobretudo, inércia dos governantes já vêm dizendo há algum tempo que este modelo está esgotado.

Parece-me também que os políticos estão na retaguarda, esperando entender melhor as manifestações, temendo aparecer e serem por elas "queimados”em suas pretensões. 

Não é fora da história este tipo de massa que vai às ruas e ela tem o mesmo perfil: adolescentes e jovens universitários ou secundaristas, com origem na classe média e que sentem perder alguns privilégios ou deixar de obter outros. Numa segunda fase, outros movimentos poderão entrar. É típico dessa classe não querer aparecer como sendo política; no entanto, ao sairem às ruas, estão fazendo política.

Se os governantes não derem uma resposta convincente, se o Supremo Tribunal Federal não encerrar o julgamento do "mensalão”, se não conseguirem controlar a inflação e fazer voltar ao Brasil era há pelo menos três anos, é imprevisível o que surgirá das manifestações. Baixar as passagens não as mandará para casa porque os governantes atacaram o pretexto, não o cerne da doença.

A diferença fundamental dessas passeatas de protesto em relação às anteriores é que os manifestantes estão apontando, claramente, que eles não pactuam com baderneiros, dizendo que entendem perfeitamente que até os governantes podem infiltrar nesses movimentos de rua alguns baderneiros para desmoralizar aquilo que os atinge.

Esta massa é mais inteligente que a de outras épocas, muito menos alienada que em outras ocasiões, porém, virtualmente comandada, como sempre ocorreu. São mais instruídos, creio que sim; destituídos de valores e alguns com características de "monstros treinados” também! É nesse ponto que a educação precisa ser revista.

Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.


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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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