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1945 – 2015. A mesma voz com timbres diferentes
Quantas vozes e quantas defesas de candidaturas políticas foram defendidas pelo A Voz da Serra nestes setenta anos? Difícil contar, tanto quanto é difícil contar as vezes em que o jornal sofreu represálias abertas ou veladas porque ele consegue quase o impossível: sobreviver numa Nova Friburgo que tem uma marca negativa de conseguir ser contra a quase tudo o que dá certo.
Dezenas de jornais foram abertos na cidade e, em seguida, fechados pelo simples fato de não poder publicar mais nada. Curioso! Sim, mas é verdade. Não poder falar de uma empresa porque falira, não poder elogiar alguém porque o Prefeito ficaria aborrecido, não poder noticiar o nascimento ou as bodas porque, com o decorrer do tempo, amigos tornaram-se desafetos de patrocinadores.
Nas cidades pequenas sempre foi assim. Mas A Voz da Serra conseguiu atravessar todos os lamaçais que diariamente inundam Nova Friburgo, desde o que solta o verbo para recriminar e xingar até os que sempre rondaram os cotovelos inchados pela inveja.
Estou chegando a uma idade em que começo a contar as jabuticabas na bacia e vejo que elas estão ficando escassas a cada dia. Informaram-me que sou um dos poucos sobreviventes da “velha guarda” deste jornal, o que significa que Laercio deve estar atrás de alguma nuvem esperando a minha chegada para dizer aquelas suas frases costumeiras que esta coluna não permite repetir. Isso mesmo, você acaba de adivinhar uma delas, o que significa que tanto você quanto eu fomos amigos do Laercio.
Uma das vozes que emiti nos tempos ainda da redação na Alberto Braune era que não teria condições físicas e psicológicas de ir ao sepultamento do Laercio. Pois bem, ele atendeu ao meu desejo: faleceu quando estava muito longe e somente através de Tony Ventura pude perceber detalhes de sua partida que nos deixava cheios de perguntas.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vozes e, diria Camões: “muda-se o ser, muda-se a confiança; tudo muda”. Mas, na nossa realidade, mudou-se o ser, mas não mudou a confiança. Brilha no horizonte, a partir de 2013, um sol diferente com olhares de interrogação, agitado um, de Adriana, aliado a outro olhar, pacato e tranquilo, típico de almas artísticas, o de Gabriel. Um olhar é vanguarda, outro é retaguarda, compondo os novos compassos e as novas vozes desta que continua sendo chamada de Voz da Serra pelos amigos e de Berro da Montanha pelos desafetos.
No dia 7 de abril de 2015, gostaria de estar com todos comemorando os setenta. Se Laercio esperar um pouco mais, estarei junto nas comemorações dos oitenta anos do jornal. Hoje, bem longe, lá na linha do equador, onde o Brasil começa, estarei vendo o rio Caetés encontrar-se com o Atlântico junto à cidade de Bragança, no Pará.
Simbolicamente, o mar abraça o Rio, como a dizer que este jornal a todos nós abraça e nos resta, neste momento, a reciprocidade aliada à confiança de quem entra em suas dependências para compartilhar, com sorriso aberto, as mais sinceras comemorações.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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