500 anos de Reforma – um legado mais que atual

terça-feira, 31 de outubro de 2017

No auge dos meus 30 anos, pastor há pouco mais de cinco anos, nunca pensei estar comemorando os 500 anos da Reforma Protestante pregando no púlpito da primeira Igreja Luterana do Brasil e da América Latina. Como bom luterano, comungo da ideia de Lutero que “não passo de um saco de vermes” (sim, Lutero tinha expressões muito peculiares e um azedume nato para falar da humanidade pecadora) e por isso, primeiramente, sou grato a Deus por essa oportunidade.

Em se tratando de gratidão, tenho acompanhado nas redes sociais e também pela TV, diversas celebrações de ação de graças alusivas aos 500 anos da Reforma. Celebrações estas que aconteceram em diversas cidades do Brasil, da América Latina, Europa (Alemanha, Suécia, entre outras) e África (existem 17,2 milhões de luteranos africanos!). Bonito foi ver e perceber que não são só os luteranos que celebram esta data. Diversas igrejas evangélicas (Presbiteriana e Batista, entre outras) e em alguns lugares até mesmo a Igreja Católica se uniram em cultos ecumênicos. Em sua grande maioria, os festejos destacam a redescoberta de Martim Lutero: a centralidade do Evangelho de Jesus Cristo acima de qualquer dogma humano.

Na sua busca por paz com Deus, Lutero deixa o legado de uma nova compreensão das Sagradas Escrituras. As ideias do reformador receberam grande adesão dos líderes políticos e da população que estava cansada de ser explorada pela Igreja daquela época. Os textos de Lutero se espalharam como rastilho de pólvora por toda a Europa, graças a Johannes Gutenberg e sua recém-inventada imprensa, e mudaram a maneira de pensar e viver das gerações seguintes.

A geração dos alemães que imigrou para o Brasil no ano de 1824, veio impregnada dos ideais luteranos e, assim, na sua maneira de viver e celebrar espalharam as concepções reformadas em solo brasileiro. Muitas das características das igrejas evangélicas de hoje provêm do pensamento luterano, dentre as quais destaco o culto cristão ser celebrado em língua popular; o uso dos dois elementos (pão e vinho/suco de uva) pelas pessoas que participam da Eucaristia; o direito de cada pessoa cristã ler e interpretar a Bíblia em busca de conhecimento e edificação de sua espiritualidade; o abandono do uso de santos e imagens; permissão para que ministros religiosos casem e constituem família. A nível social, o incentivo à criação e manutenção de escolas públicas, a valorização do trabalho secular como dom de Deus e uma ética pautada na Sagrada Escritura também são valores que seguimos nutrindo graças ao movimento reformatório.

Sola Gratia – Somente a graça – foi um dos motes de vida e fé de Lutero. O reconhecimento intrínseco de que somente pela graça de Deus recebemos o perdão e podemos fazer boas obras. Pela graça de Deus, eu sou parte dessa história. Pela graça de Deus, você é parte dessa história. Pela graça de Deus, Nova Friburgo é parte dessa história e desse legado! Eis a nossa gratidão, como grafava o músico luterano Johann Sebastian Bach sempre no fim de suas composições: “SDG” – Soli Deo Gloria – A glória somente a Deus! É esse sentimento que queremos nutrir nesse dia histórico, quando nos reuniremos na Igreja Luterana de Nova Friburgo para celebrar irmanados com cristãos do mundo inteiro que a Reforma segue viva, pulsando em nossas veias. Que o legado da Reforma é mais atual do que nunca. Sabemos de nossas limitações humanas, que somos simultaneamente justos e pecadores. Por isso: Que venham mais 500, pela graça de Deus, visto que ainda seguimos “saco de vermes”!

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