Nosso ídolos ainda são os mesmos?

segunda-feira, 08 de junho de 2015

Um empate, mais um ponto e o quinto lugar. Não era o que a torcida do Fluminense esperava, claro. Ainda mais jogando no Maracanã. Mas vale lembrar que o tricolor enfrentou um dos destaques do Brasileirão, o Sport. A equipe pernambucana está um ponto à frente do Flu, na quarta colocação, o que não é pouco para um time que tem como adversários os grandes do Sul e Sudeste. Aliás, este campeonato tem surpreendido, pelo menos até agora: nas quatro primeiras colocações estão, respectivamente: Atlético — não, não o mineiro, mas o paranaense —, São Paulo, Ponte Preta e Sport.

A maior decepção da torcida tricolor não foi exatamente o empate sem gols, mas o fato do time das Laranjeiras vir de duas vitórias seguidas, inclusive contra o grande rival Flamengo, e só ficar no zero a zero. Apesar disso, Enderson Moreira parece estar acertando a equipe. Uma equipe, que como todos sabem, perdeu o patrocinador de vários anos e, consequentemente, teve que se adaptar a outro orçamento, menor. E viu vários de seus jogadores partirem. Por isso o treinador precisa de tempo para colocar em campo a equipe ideal com as peças que tem a seu dispor.

Num fim de semana em que o Barcelona conquistou maravilhosamente mais um troféu para a sua extensa coleção, o que podemos concluir é que é preciso muito esforço para que nossos corações apaixonados fiquem firmes, pulsando ainda por seus times. Times do Brasil, quero frisar. Porque tem muitas crianças — e até adultos — que estão abdicando das equipes nacionais para vibrar — e comprar produtos — de equipes estrangeiras, principalmente Barcelona. E não dá para tirar muito a razão deles.

Assistir ao Barça jogar é aquele momento que a gente diz, com uma certa inveja, “isto é que é time”. E não é só por causa do trio Messi-Soares-Neymar. É pelo conjunto. É porque mesmo quando eles se desfazem de um craque, contratam outro, ou outros, no mínimo do mesmo calibre. Aqui, não. A gente se entusiasma com uma equipe e logo depois ela é estilhaçada por vendas muitas vezes estapafúrdias. Antigamente ainda a gente podia se conformar em vê-los defendendo grandes equipes da Europa, brilhando, muitas vezes. Tínhamos notícias deles — como Thiago Silva, por exemplo —, víamos fazendo gols e defesas, dando aquele passe decisivo. Assim como os bons pais, ficávamos tristes com a ida deles para fora de casa, mas sabíamos que era um caminho natural, melhor para eles. Mas agora... ah, agora... o dinheiro do futebol se pulverizou e perdemos nossos ídolos ou candidatos a ídolos. Meninos que poderiam marcar seus nomes nos nossos corações são levados para China, Coreia do Sul, Ucrânia, Catar, Emirados Árabes, entre muitos outros países. Sem querer desprestigiá-los, mas é claro que o dinheiro deles fala mais alto para empresários e cartolas, que acabam convencendo os garotos, e pais desses, a concordarem com a transferência por ser uma “independência financeira”.  A pergunta é: por que eles precisam adquirir “independência financeira” tão jovens? Por que não podem amadurecer em seus clubes — ganhando geralmente mais do que já sonharam ganhar —, tentando se firmar, primeiro, por estas bandas e, quem sabe, até chegar à Seleção e a um grande time da Europa, para se aventurarem e comprometerem a carreira? Me digam onde estão Wellington Nem, Maicon Bolt e Alan? Como eles estão em suas equipes atuais?  Sentimos falta também daqueles que, mesmo que não tenham sido  formados em nossos times de coração, acabaram entrando para a história do clube por seus talentos. Mas um dia, eles também arrumam as malas e seguem para outros países, sumindo do noticiário. Cadê o Conca?

A verdade é que está mais fácil conhecermos um time de outro país do que do nosso. E voltando ao Barça, lá estão nomes como Iniesta, anos e anos defendendo o time catalão. Só para citar um único nome. Aqui temos poucas exceções: Rogério Ceni é uma delas. Jefferson, no Botafogo. E para não falar só de goleiros, Fred tem resistido um bom tempo no Flu. Tem vários outros, mas é difícil a gente montar uma equipe com jogadores que vestem por anos a fio a mesma camisa aqui no Brasil.

Enfim, o quero dizer é que torço imensamente para que não só o Flu, mas também os outros clubes do Brasil deixem de criar ídolos descartáveis, craques da hora, para que possamos voltar a saber a escalação de nossos times, gritar nome por nome nos estádios (que andam bem vazios, por sinal), para que voltemos a vibrar muito mais pelas nossas camisas do que pelas dos outros. Pelo bem dos times, pelo bem do futebol brasileiro.

Saudações tricolores e que venha o Palmeiras.

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