Enderson Moreira e seus teclados

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Não tem jeito. Toda vez que ouço o nome do (de)novo técnico do Fluminense me parece que estou numa churrascaria e lá está um cartaz: "Hoje, apresentação de Enderson e Seus Teclados". Ou então num clube com show da "Orquestra do Maestro Enderson Moreira". Depois da substituição "sai-Drubscky-entra-Enderson", até que - pelo menos - ficou mais fácil falar o nome do técnico tricolor. Quanto ao músico de churrascaria, que não se ofendam os verdadeiros batalhadores que fazem dos ambientes gastronômico um oásis no meio da gritaria reinante e, atualmente, do silêncio incompreensível de famílias conectadas em plena reunião que deveria ser de integração. Que o treinador das Laranjeiras também não leve a mal, ao contrário. Num país que pouco valoriza seus músicos off-mídia e que troca de técnico de futebol como se troca de roupa, conseguir fazer um trabalho bem feito, estruturado, tanto no setor cultural quanto no esportivo, é muito, muito difícil. 

E Enderson é um bom exemplo disso. Há quatro anos, Muricy Ramalho (um nome que sempre está na mídia)  deixou o Fluminense em plena Libertadores e o atual técnico tricolor assumiu a equipe, interinamente, enquanto Abel Braga (também bastante conhecido) não chegava. Ou seja, entrou já sabendo que iria sair. Pior é o que acontece com quase todos os técnicos brasileiros, que assumem um time, achando que vão ter estabilidade, e se deparam com contratações indesejadas, desmonte de equipes, vendas de craques das categorias de base, e imposições - inclusive em relação à escalação - de diretores, patrocinadores, empresários, torcidas organizadas etc. E quando dá errado, de quem é a culpa? Do técnico! E aí é fatal: demissão! É mais fácil tirar o treinador do que admitir erros estruturais, atrasos em pagamentos, ganâncias e incompetências. 

O Fluminense está no seu terceiro técnico este ano. E estamos em maio. Eu estava quase conseguindo guardar o sobrenome do anterior quando me aparece o atual. É o 43º em 13 anos, o que dá uma média de mais de três por ano. Um a cada quatro meses. Afinar uma equipe assim é praticamente impossível. Enderson entrou no meio da semana já pegando uma pedreira: fazer um bom jogo contra o líder Corinthians e deixar para trás a vergonhosa goleada contra o Galo. Não conseguiu ainda mostrar ao que veio, mas pelo menos arrancou um empate num jogo pra lá de chato. 

O novo treinador vai ter que administrar algumas "dissonâncias" do atual elenco. Quem sabe, imprimir ao time um "andante" que se transforme, em pouco tempo, num "allegro"? Um "allegro com brio", de preferência, como o primeiro movimento da 5ª de Beethoven. Para isso, Enderson vai precisar reger um grupo irregular, com um meio campo pouco ritmado, o que dificulta muito o trabalho da defesa e do ataque do amigo Fred. Lembrando, é claro, que qualquer desafino pode levar ao cartão vermelho e a nova busca para assumir um time de expressão (como será que vivem as famílias dos técnicos de futebol no Brasil, nesse constante vai-prá-lá-e-prá-cá?).

Enfim, é esperar para  ver se Enderson acerta o compasso do time tricolor e deixa de ser visto como um "músico de churrascaria", que, por melhor que seja, não tem a atenção devida da mídia e público.

Saudações tricolores!

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