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O que eles disseram
É a velha história: todo cronista, quando lhe falta assunto, apela para o que outros, mais talentosos ou inspirados, tenham dito ou escrito. Se bem que assunto nunca falta, é o que mais existe neste mundo. O que às vezes falta, e é o caso de hoje, é inspiração, paciência, competência - vocês decidam!
Seja qual for a razão, juntei para hoje um punhado de frases que achei por aí ou andei retirando das minhas (poucas) leituras. E, antes de me criticarem por isso, lembrem-se Machado de Assis: "Citar a propósito um texto alheio equivale a tê-lo inventado".
Comecemos com José Lins do Rêgo. Prevista desde o nosso primeiro suspiro, a morte sempre nos pega de surpresa, porque é o "drama mais representado deste mundo e o mais inédito para todo o mundo".
Já Guimarães Rosa acreditava que "As pessoas não morrem, ficam encantadas". E, para Raul Seixas, "Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida". Manuel Bandeira a julgava um alívio para os sofrimentos: "A morte é o fim de todos os milagres".
Contudo, apesar "dela", da Indesejada, vale a pena viver, talvez porque, como nos lembra Alberto Mussa, "Nem a iminência da morte é capaz de privar a humanidade do amor pela beleza".
Os saudosistas parecem que mais do que terem lembranças do passado, querem permanecer nele. Mas, para Mia Couto, "Não existe o ter vivido. Viver é um verbo sem passado".
Isso não impede que tenhamos saudades do que fomos. Quanto mais envelhecemos, mais concordamos que Jean Cocteau: "Os espelhos deveriam pensar duas vezes antes de refletir".
Envelhecemos e nos iludimos ao acreditar só por isso nos conhecemos melhor e que ficamos melhores. Quem alimenta essa ilusão talvez não goste do que a respeito disse Joseph Conrad: "Creio que nenhum homem tem plena consciência das engenhosas artimanhas a que recorre para escapar à sombra terrível do conhecimento de sua própria pessoa".
Nem tão pessimista, porém bem realista foi Érico Veríssimo quando, já não sendo nenhum garoto, lhe sugeriram que se candidatasse à Academia Brasileira de Letras: "Como é que eu vou ser candidato, se já sou quase uma vaga?".
Aliás, Érico Veríssimo não foi o único a levar na brincadeira tão solene instituição. Como a idade dos acadêmicos torna frequente a abertura de vaga, Millôr Fernandes concluiu que "A Academia Brasileira de Letras se compõe de 39 membros e um morto rotativo".
Também é de Millôr esta sábia advertência aos workaholics: "Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer".
Aos ciumentos e possessivos, uma reflexão de José Saramago: "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar".
Do Barão de Itararé, fiquemos com esta: "Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa", ou: "De onde não se espera é que não sai mesmo".
Fazer dieta vale a pena? Antes de começar a sua, saiba a que conclusão chegou Tim Maia: "Comecei uma dieta: cortei a bebida e as comidas pesadas e em quatorze dias perdi duas semanas".
E Eduardo Suplicy, com aquela cara de anjo em repouso, também é capaz de gracinhas assim: "Passar a mulher pra trás é fácil, difícil é passar adiante!!!"
O que me lembra James Hot McGrava: "Eu não tive sorte com minhas duas esposas. A primeira me deixou e a segunda não".
Ai das mulheres! Até Freud implicava com elas: "Eu troquei algumas palavras com minha mulher e ela trocou alguns parágrafos comigo".
Os jovens que gostam de derramar seus sentimentos em versos certamente perderiam um pouco do entusiasmo se lessem Umberto Eco: "Todos escrevem poesia na mocidade, depois os verdadeiros poetas tratam de destruí-las e os maus poetas tratam de publicá-las".
Como saber se um homem é bom ou mau? Para José Rodrigues dos Santos: "Um homem bom gosta das pessoas e usa as coisas. Um homem mau gosta das coisas e usa as pessoas".
Começamos com Machado de Assis, terminemos com Machado de Assis, lembrando às mulheres que sonham com o príncipe encantado: "Os sonhos acabam ou alteram-se, enquanto que os maus maridos podem viver muito:"
(Alias, parece que Oscar Wilde não pensava diferente: "Nenhuma mulher é esperta ao conseguir para si o pior e o mais inútil dos males: um marido").
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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