Colunas
A menina que navegava livros
O livro resiste e resistirá sempre
Caiu na rede e se multiplicou ou, para usar um neologismo em moda, viralizou. Quando as águas chegaram à casa de Rivânia e entraram sem pedir licença, a avó mandou a neta salvar somente as coisas mais importantes, e que saíssem às pressas, antes que ambas morressem afogadas. Até aí, nada demais, pobre fugindo de enchente ou de tiroteio entre polícia e bandido é coisa nossa, é o Brasil no que ele tem de mais autêntico. Como a estátua de Cristo, o futebol ou o Carnaval, é o que melhor nos representa aos olhos do mundo.
Depois da desgraça, vem a imprensa, faz as perguntas habituais e ouve as habituais respostas:
- A senhora perdeu o quê, D. Maria?
-A gente não tinha nada e perdeu tudo que tinha.
E tome correria para salvar o colchão, a TV ou o cachorro. Então, o que espanta no caso da menina Rivânia? O que espanta é que ela não salvou a boneca, nem o vestido, nem a lata de biscoito. Salvou os livros escolares. Rivânia é talvez uma exceção, neste Brasil onde os livros não ocupam lugar de destaque entre as preocupações da maioria das pessoas. Do tudo ou nada que podia levar consigo, a menina agarrou-se aos livros. Sobre as águas, lá vai ela, abraçada ao seu tesouro. Monteiro Lobato disse que um país se faz com homens e livros. E com meninas como Rivânia, com certeza.
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A utilidade dos livros
Todo livro tem a sua utilidade. Na verdade, eles podem ser aproveitados de diversas formas. Por exemplo, para enfeitar estantes ou calçar algum móvel manco. Em todo caso, se tivermos mesmo que ler, preferimos os best-sellers estrangeiros que continuamente aportam aqui, precedidos de muita badalação. Na verdade, a gente quase nem precisa ler, de tanto que já ouviu falar. Também servem livros de autoajuda, que geralmente são de grande ajuda para quem os escreve e com eles enriquece. Mas, apesar de ser para tanta gente objeto supérfluo, quando não inútil, o livro resiste e resistirá sempre, porque dentro dele cabe o mundo, cabe a vida, cabe o coração humano. Talvez não sejam tantas quantas seria desejável, mas ainda há rivânias suficientes para que o livro siga navegando por sobre as águas desse rio infinito que é a necessidade de ser, de saber e de conviver.
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O que pensam sobre os livros as pessoas que pensam?
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia, um morto que vive. (Pe. Antônio Vieira)
Caminhais em direção à solidão. Eu não, eu tenho os livros. (Marguerite Duras)
A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde. (André Maurois)
O livro é uma extensão da memória e da imaginação. (José Saramago)
É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros. (Bill Gates)
O livro – esse audaz guerreiro/ Que conquista o mundo inteiro/ Sem nunca ter Waterloo... (Castro Alves)
O livro caindo n’alma/ É germe – que faz a palma/ É chuva – que faz o mar. (Castro Alves)
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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