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Manuel Bandeira – poeta brasileiro
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho é um dos nomes mais significativos do modernismo na literatura brasileira. Desde o Simbolismo dos primeiros versos, conservou uma voz própria, marcada pela simplicidade dos versos e uma linguagem despojada e antiacadêmica. A tuberculose que o vitimou ainda jovem resultou numa poesia sofrida, mas nunca piegas ou autocomiserativa. Ao contrário, suas dores, sua vida, passaram sempre pelos filtros do humor, da ironia e da ternura.
A poesia de Bandeira está profundamente calcada na infância (“O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!”), no amor – ora, idealizado (“Quero apenas contar-te minha ternura”), ora sensual (“Teu corpo.a única ilha/No oceano do meu desejo) -, na morte (“... nada quero da vida/ E em verdade estou morto ali), no cotidiano mais humilde (“Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas”), e no próprio fazer poético (“Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo”).
A seguir, um diálogo imaginário com a obra de Manuel Bandeira.
Bandeira, como é seu processo de criação?
- Eu faço versos como quem morre.
- Sem modéstia, qual a sua grande qualidade como poeta?
- Invento palavras que traduzem a ternura mais funda.
Por que você ironiza a poesia tradicional, por exemplo, no poema Os Sapos?
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
E se os leitores continuarem preferindo os poetas conservadores e retóricos, o que você fará?
- Vou-me embora pra Pasárgada
Por que Pasárgada?
- Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que quero/ na cama que escolherei.
A infância é um dos seus temas mais constantes. Como você se sente em relação ao menino de antigamente?
- Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.
Que lembrança, digamos literária, você traz dos seus tempos de menino?
- As cartas que meu avô/ Escrevia à minha avó.
Se você pudesse recuperar algo de sua infância, o que seria?
- As cigarras que eu ouvi menino.
Lembrando aquele menino que ouvia cigarras, o que você, adulto, mais lamenta?
- A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Também os jovens leitores admiram sua poesia. O que você gostaria de dizer a eles?
- Que a vida passa! que a vida passa! / E que a mocidade vai acabar.
Você é sempre pessimista em relação à vida?
- A vida não vale a dor de ser vivida.
Mas, no fundo, você parece aproveitar a vida, mesmo tendo sofrido.
Só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
E como você reage a essa “dor de viver”?
- A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
O que, afinal, vale a pena na vida?
A delícia de sentir as coisas mais simples.
Você tem medo da morte? Como imagina que será seu encontro com ela?
-Talvez eu tenha medo, talvez sorria e diga: - Alô, iniludível!
- Sei que é grande maçada/ Morrer, mas morrerei/ Sem maiores saudades/ Desta madrasta vida,/ Que todavia amei.
Seus versos transmitem a ideia de um homem sem grandes ambições materiais. Isso é verdade?
- O que não tenho e desejo/ É o que melhor me enriquece.
Como você gostaria de envelhecer?
- Humildemente, pensando na vida e nas mulheres que amei.
Por que sua poesia fala tanto dos prazeres do corpo?
- Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Quem você mais admira na literatura brasileira?
- O poeta lúcido e límpido / Que é Carlos Drummond de Andrade.
O que você considera que há de bom em si mesmo?
- Minha grande ternura / pelas gotas de orvalho que/ São o único enfeite/ De um túmulo.
Bandeira, segundo Drummond: “O poeta acima da guerra e do ódio entre os homens (...) O poeta melhor que todos nós, o poeta mais forte.”
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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