Colunas
Horóscopo do dia
Há perguntas que nem mesmo os melhores horóscopos se atrevem a responder!
Abro a internet e me deparo com o horóscopo do dia. Resolvo consultá-lo para saber se meu casamento vai dar certo, sendo eu de Câncer e ela, de Gêmeos. O resultado não é muito animador, pois, segundo afirmam os astros, temos visões diferentes sobre pontos fundamentais para evitar que um relacionamento acabe em separação, ou mesmo em tapas e tiros. Não querendo desmerecer os autores zodiacais, nem os fundamentos científicos de suas previsões, ouso duvidar um pouco. Afinal, só pode ser um palpite infeliz prever insucesso para o que vem sendo sucesso há décadas.
Também vejo aqui que preciso mudar de profissão e desenvolver meus talentos se quiser obter êxito na carreira. Tudo bem, mas o fato é que meus talentos sempre foram bastante limitados e, para falar a verdade, não acredito que sejam capazes de ir muito além de onde estão. Quanto à carreira, talvez eu deva parodiar o apóstolo Paulo, e dizer que desde muito jovem tenho travado o combate que me coube travar. A duras penas, consegui acabar a carreira, ou seja, engavetar a última carteira profissional. E não perdi a fé, ainda que ela nunca tenha sido mais do que um caniço soprado pelos ventos.
Também está previsto no horóscopo que nos próximos dias terei um encontro com grandes chances de virar um relacionamento sério, “desde que você esteja só”. Não sei bem o que significa esse “relacionamento sério”, mas suponho que se trate de uma história de amor. Para não alimentar falsas esperanças, devo alertar às possíveis interessadas que não apenas não estou só, como, modéstia à parte, estou muito bem acompanhado. Também que “algo maior virá!” me garante o guru astrológico. Talvez ele queira me animar, mas a verdade é que fico assustado. Algo maior bem pode ser um caminhão vindo na contramão.
Mas não sejamos pessimistas. Avante com a leitura! Eis que me é prometida uma paixão nova e intensa, se eu der “um tom mais doce” às minhas palavras. Álvaro Moreyra mantinha na imprensa uma coluna com o título “As amargas, não”. Também eu sou contra as palavras que possam causar tristezas e desentendimentos. Mas, ai de nós!, quem nunca foi traído pela língua, que agiu mais rápida do que a cabeça e o coração? Um conselho que os entendidos dão a oradores e escritores é que das palavras, usem as mais simples e, das mais simples, as menores. Com certeza vale acrescentar a esse bom conselho que, das palavras, menores e mais simples, usemos as mais doces, posto que a vida já tem, por si mesma, muitas coisas amargas.
Mas muito me anima saber que a entrada de Mercúrio no meu campo astral me ajudará a equilibrar o orçamento. Que Mercúrio seja bem-vindo, e todos os demais astros entendidos em dinheiro, que ando bem precisado de uma ajuda nessa área. Meus vencimentos mensais deveriam ser chamados de derrotas contínuas. A relação entre minhas receitas e despesas é como roupas de um anão vestidas por um gigante. Verdade que, como dizia um comediante de antigamente, não é que as coisas sejam caras: “Tu é que ganha pouco”. Sim, ganho pouco, e ainda tenho que devolver ao governo grande parte desse pouco, cercado que estou por impostos, taxas, juros e mora. Se você pensar bem, verá que no Brasil tudo é muito barato, desde um tomate na feira até um iate ancorado em Angra dos Reis. No Brasil, só tem uma coisa cara: o governo, que abocanha um bom pedaço de cada pãozinho que compramos na padaria.
Finalmente, desisto de continuar a leitura, diante da possibilidade, de “uma nova e inesperada gravidez”. Cheguei até a pensar no assunto, mas, quando contei isso à pessoa que poderia me acompanhar nessa aventura, ela começou a rir, como quem diz “não há de ser comigo!” E com quem mais poderia ser? Bem, há perguntas que nem mesmo os melhores horóscopos se atrevem a responder!
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário