Elas, as tecelãs

quarta-feira, 02 de março de 2016

Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores (Cora Coralina)

Elas queriam muito, queriam demais: trabalhar apenas dez horas diárias, e não dezesseis; queriam um pouco mais de respeito no ambiente de trabalho e - imaginem! - receber o mesmo salário que os homens. Enfim, sendo apenas mulheres, estavam querendo ser gente. No dia 8 de março de 1857, em Nova York, reuniram-se para reivindicar tais absurdos. Tecelãs de vida, sonhavam-se mais do que tecedoras de linhas e panos.

Quando puseram fogo na fábrica onde as operárias se aglomeravam, matando cerca de 130 delas, os tolos de então julgaram ter calado de vez a voz feminina. Cantaram como sua uma vitória, que, a História mostraria, era apenas o começo das grandes vitórias das mulheres sobre o preconceito, a injustiça e o atraso.

Foi fácil? Claro que não! Se fosse fácil, Deus tinha entregue a tarefa aos homens. Somente em 8 de março de 1910, foi criado o Dia Internacional da Mulher, data que precisou esperar o ano de 1975 para ser oficializada pela ONU.

Mas elas estão aí, vitoriosas. Dirigem caminhão, prendem bandidos, governam países e, como sempre, desde sempre, ensinam aos filhos as branduras e as durezas da vida, transformam palácios e barracos em lares. Com elas, os homens vão aprendendo que suavidade e ternura são apenas formas mais bonitas de determinação e competência.

O mundo ficou melhor. Fica melhor a cada dia em que homens e mulheres caminham juntos – iguais e diferentes - na desafiadora caminhada humana em busca da felicidade.

 

E porque elas merecem muito mais do que essa minha modesta homenagem, acrescento, pelo Dia Internacional da Mulher, um poema de quem tanto as conhecia, admirava e exaltava: Vinícius de Moraes.

Soneto de Contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma…

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

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Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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