É o fim do mundo!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Nada de afobação, que numa hora dessas a correria acaba pondo tudo a perder

Esta deve ser a minha última crônica. Talvez já seja mesmo a hora de dizer adeus. “Até que enfim!”, estará exclamando algum leitor que hoje saiu da cama de mau humor, revoltado com toda a espécie humana. Como faço parte dela (por falta de alternativa), fui alcançado pelas labaredas da irritação desse senhor mal dormido. Mas não haveria de ser por causa de um leitor que tivesse saído da cama com dois pés esquerdos que eu pararia de escrever. A razão é bem mais grave. Porque, a acreditar na internet, nosso planeta está com as horas contadas, não chega à próxima semana. Segundo a profecia que está aqui na tela do meu computador, o tempo que nos resta é tão pouco que o melhor que podemos fazer é começar a nos despedirmos deste mundo, rezando para chegarmos ao outro sem grandes dificuldades, e que lá arrumem um lugarzinho bom para nos colocarem.

Nada de afobação, que numa hora dessas a correria acaba pondo tudo a perder, inclusive o pouco tempo que nos resta. Sigamos o exemplo daquela santa católica,Terezinha do Menino Jesus, se não me engano, que estava lavando roupa quando lhe perguntaram o que ela faria se soubesse que o mundo ia acabar naquele mesmo dia. Sem se afastar do tanque, ela respondeu que terminaria de lavar a roupa. Uma boa lição que podemos tirar dessa história é que, se tivermos mesmo que partir, é melhor concluirmos o trabalho que nos cabe e deixar tudo arrumado para os que ficarem. Ou, como disse Manuel Bandeira: “Lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”.

Se bem que essa história de fim do mundo é antiga. Muitas vezes na minha infância ouvi dizer que “a mil chegarás, de dois mil não passarás”. Para mim, dois mil era uma coisa tão distante que nunca chegou a me preocupar, e eis que cheguei a dois mil, nele já estou há alguns anos e pretendo permanecer tanto quanto possível. Com todo respeito aos irmãos adventistas, lembro que o fundador dessa igreja, William Miller, embora sendo um homem de Deus, nem por isso acertou a data do fim do mundo. Assegurou que Cristo viria entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844. Como Cristo não apareceu, Miller desistiu de agendar um acontecimento a respeito do qual diz a Bíblia (Mateus 24.36): “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai”.

Sim, não sabemos. Mas uma coisa é absolutamente certa: o mundo vai acabar. Talvez não para toda a gente ao mesmo tempo, mas para cada um de cada vez quando chegar a vez de cada um. A vida é um intrincadíssimo bordado, que se desfaz ao menor puxão de um de seus fios. Quantas vezes já nos surpreendemos ao saber da partida de alguém que ainda no dia anterior estava por aí, lépido e fagueiro?

Bem sensato é o conselho de que vivamos como se fôssemos eternos, mas estando preparados para morrer amanhã. Porque o mundo pode acabar a qualquer momento, neste exato momento está acabando para milhões de pessoas, sem que elas tenham sido avisadas pela internet ou por qualquer desses profetas que de vez em quando anunciam o fim dos tempos, o fim da história, o fim de tudo. O mais frequente é que o próprio corpo dê o aviso, e às vezes nem mesmo ele se dá a esse trabalho.

Em resumo: corre na internet a notícia de que o mundo vai acabar nos próximos dias. Caso isso não aconteça,e se Deus permitir, aqui estarei novamente na semana que vem. Desejo que você, leitor, também esteja. Vivíssimo, com muita saúde, tempo e paciência para me aturar.

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Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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