Colunas
Duas Anedotas
Dentadura rima com compostura, mas não tem nenhuma
Para falar a verdade, essas histórias nem são minhas, vou apenas recontar, por falta de assunto (se bem que assunto nunca falta, é o que mais tem no mundo, o que falta às vezes é inspiração). Desprovido desta, aproprio-me de assuntos alheios, na esperança de que não me processem por plágio, pois no momento não estou em condições de pagar indenização a ninguém, aliás, ando fazendo um sincero esforço para pagar as contas do dia a dia.
A primeira é a seguinte. Eu estava andando na praia quando passou um rapaz que, tendo a ajudá-lo um carrinho com alto-falante, vendia CDs de piadas. Ouvi o final de uma delas, deduzi o resto, inventei um pouco e conto-a agora para vocês.
Dizem que se realizou nos Estados Unidos um curso para mulheres, cujo objetivo era torná-las livres do jugo masculino e, portanto, capazes de olhar o mundo de outra maneira. Na segunda versão do curso, as diplomadas do ano anterior foram chamadas a dar seus depoimentos.
O apresentador pediu a opinião da representante da França.
- Então, Madame Balzac, o curso foi útil para a senhora?
- Muito útil, vocês nem imaginam! Cheguei em casa e disse: "François, a partir de hoje eu não lavo nem mais uma pecinha de roupa”.
- E qual foi a reação do seu marido?
- Olha, no primeiro dia eu não vi nada. No segundo, também não. Mas no terceiro dia ele começou a lavar as meias, as cuecas... Hoje ele é dono da maior rede de lavanderias da França.
- Muito bem, Madame Balzac! Vamos ouvir agora Mrs. Fitzgerald, representante dos Estados Unidos. Qual foi o resultado do curso para a senhora, Mrs. Fitzgerald?
- Bom demais, vocês nem imaginam! Cheguei em casa e disse "Bob, a partir de hoje eu não cozinho mais, adeus fogão!”
- E qual foi a reação do seu marido?
- Olha, no primeiro dia eu não vi nada. No segundo, também não. Mas no terceiro dia ele começou a fritar um ovo, fazer umas panquecas... Hoje ele é dono da maior rede de restaurantes dos Estados Unidos.
- Muito bem, Mrs. Fitzgerald! Vamos agora ouvir a representante do Brasil, Dona Hermenegilda, vinda lá do interior da Paraíba. Dona Hermê, qual foi o resultado do curso na vida da senhora?
- Pois veje, seu moço, cheguei em casa e falei "Severino Raimundo, a partir de hoje não lavo mais roupa, não cozinho mais e nem varro quintal”.
- E qual foi a reação do seu marido, Dona Hermê?
- Olha, no primeiro dia eu não vi nada. No segundo, também não. Mas no terceiro dia, quando meus olho começaram a desinchar, comecei a ver uns vulto, umas sombra, uns movimentozinho pela casa!
Vamos à segunda. Havia em nossa cidade (como em todas as cidades brasileiras) um político que não perdia velório, conhecesse ou não o falecido. Famosos eram seus discursos ao lado do caixão, ou ao pé da cova, de preferência abraçando a viúva ou algum parente próximo.
Tem até uma piada segundo a qual, tendo encontrado uma eleitora, perguntou-lhe pela mãe.
- Mamãe faleceu há três anos, doutor!
- Faleceu pra você, sua ingrata! Para mim ela estará sempre viva em meu coração!
Pois me contaram que esse Rui Barbosa provinciano certa vez ergueu a voz na capela mortuária e, diante do caixão em que repousava um amigo de muitos anos, começou a falar, a cada frase mais empolgado com a própria eloquência.
- Querido amigo, leva contigo as melhores lembranças da minha infância! Leva contigo os momentos mais felizes da minha juventude! Leva contigo os tempos de namoro! Leva contigo os trabalhos, as lutas, as realizações de nossas vidas!
No auge da empolgação, o grande tribuno se emociona, exagera na vibração das palavras e dos gestos e eis que lhe escapa da boca a reluzente dentadura. Dentadura rima com compostura, mas não tem nenhuma, e esta foi cair justamente dentro do caixão.
Demonstrando que não alcançara tão grande fama sem muita presença de espírito, o orador concluiu:
- Querido amigo, Leva contigo o meu último sorriso!
PS - Na crônica da semana passada, escrevi "o Andes”, ao invés de "os Andes”. Assinale com X o item que melhor corresponde ao que você pensou a respeito:
a( ) ignorância do autor; b( ) distração do autor; c( ) culpa da Reforma Ortográfica; d( ) Eu nem tinha percebido!; e( ) Ué, eu pensei que estava certo!
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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