Boas respostas

sexta-feira, 08 de janeiro de 2016

Tenho uma grande arte. Eu firo duramente aqueles que me ferem

Famoso ator inglês interpretava Ricardo III e, a certa altura da peça de Shakespeare e da história da Inglaterra, o rei está perdendo a batalha e começa a gritar para que alguém traga a montaria que lhe permita perseguir seu adversário: “Meu reino por um cavalo!” Da plateia, um engraçadinho perguntou: “Um burro serve?” O ator interrompeu a apresentação e respondeu, com fleuma britânica: “Serve. Pode subir.”

E tem a história daquela deputada, também inglesa, que possuía uma língua terrível. Durante comício numa zona rural, um eleitor, querendo insinuar que ela não entendia nada da vida no campo, perguntou-lhe quantos dedos tinha um porco, tendo obtido por resposta esta delicadeza: “Homem, tire as botas e conte!” Pois essa senhora se deu muito mal quando resolveu provocar Winston Churchill, dizendo-lhe: “Se o senhor fosse meu marido, eu lhe dava veneno”. Serenamente, ele retrucou: “Se a senhora fosse minha mulher, eu tomava”.

No Brasil, Carlos Lacerda deixou fama pela eloqüência, pela inteligência, mas também pela dureza com os adversários. Chamado por um deles de “ladrão da honra alheia”, deu uma resposta impiedosa: “Então o senhor pode dormir tranquilo, pois nada tem que eu lhe possa roubar”. Outro político, Milton Campos, ao contrário, era um manso e, ao morrer, mereceu de Carlos Drummond de Andrade este elogio incomparável: “Foi o homem que todos gostaríamos de ter sido”. Governador de Minas Gerais, Milton Campos recebeu de um secretário a sugestão de que mandasse um trem com soldados para reprimir operários em greve por falta de pagamento. “Não seria melhor mandar um trem com o dinheiro?”, perguntou o governador.

As pessoas que têm respostas rápidas e inteligentes despertam admiração, mas também certo temor, pois possuem uma qualidade que pode torná-las cruéis. Assemelham-se às vezes a uma rosa em que o espinho é maior do que a flor. Por uma boa frase, são capazes de sacrificar amizades, envenenar ambientes, machucar seus semelhantes. São artistas na triste especialidade de que fala o poeta grego Arquíloco de Paros: “Tenho uma grande arte/ Eu firo duramente aqueles que me ferem”. Ignoram a poética recomendação para ser como o sândalo que perfuma o machado que o fere. Esmagam o sândalo e entortam o machado. Nós outros, mortais comuns, reconhecemos o talento dessas pessoas, mas não gostamos de viver próximos a elas. Porque é uma lastimável verdade que nem sempre podemos gostar de quem admiramos.

Algum leitor mais exigente talvez me critique pelo comodismo de apenas ter copiado frases dos outros. Mas ninguém menos do que Machado de Assis vem em meu socorro: “Citar a propósito um texto alheio equivale a tê-lo inventado”. Wyndham Lewis afirmou que “Escrever é fácil, “você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto. No meio você coloca as ideias”.

Foi justamente por ter empacado nesse meio que hoje apelei para pessoas bem mais dotadas de ideias do que eu. O leitor que me desculpe. Ou não.

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Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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