Atendimento profissional

Caramba! Haja paciência pra dar um atendimento profissional a essa gente que nem sabe explicar o que quer!

- Boa tarde, eu queria falar com o deputado Castanheira.

- Fala, querido!  Que que você manda?
- Peço. Humildemente peço que o deputado Castanheira entre em contato comigo. Por favor, Diga a ele que é o...

- Olha, meu bem, dizer eu digo, mas só quando o doutor Castanheira aparecer por aqui.

- Quando ele volta?

- Sabe Deus, benzinho!

- A senhora não sabe onde ele está agora?

- A fofoqueira da assessora do deputado Marquito do Ferro Velho disse que o Doutor Castanheiro foi pro motel com as amantes. Mas o que posso jurar, amorzinho, é que ele está na capital do... desculpe  o palavrão...  na capital do Peru, tratando de assuntos do Mercosul. E, cá entra nós, paixão da minha vida, Santiago fica longe daqui. Por telefone então...

- Minha senhora, a capital do Peru não é... bom, deixa pra lá. O deputado tem alguma coisa a ver com o Mercosul?

- Inocentinho! Hoje em dia até o Putin, aquele presidente da Inglaterra, tem a ver com o Mercosul. Tá todo mundo de olho no Mercosul. O Doutor Castanheira vai lá quase toda semana. Pelo que ouvi dizer, ele tem negócios com um tal de Cannabis Sativa. Cannabis Sativa! Esses peruanos têm cada nome, né, amigão?

- Bom, de qualquer modo, deixo o recado com a senhora.

- Pode falar... Espera um instantinho: lasquei uma unha aqui... Já lixei. Tá mais ou menos. Amanhã preciso ir à manicure de novo. O doutor Castanheira reclama que unha lascada arranha. Ó, não me interprete mal: arranha a mesa, o computador, essas coisas, entende?

- Entendo. O recado é o seguinte: ele me encomendou um...

- É assim mesmo. Vive encomendando coisas e depois esquece. Muito Trabalho. É o Mercosul!

- Acredito, mas foi ele mesmo que pediu urgência, então...

- Ah, tudo com ele é urgência. Só tem uma coisa que ela gosta de fazer com calma. Ó, não me interprete mal: estou falando é dos discursos que meu irmão escreve pra ele. Ele sempre diz: “Faz com calma, Claudileido, se não saem aquelas besteiras de sempre!”

- Seu irmão não se aborrece?

- Salário é salário, né, amor? Depois tem hora extra, viagem ao exterior, recepção nas embaixadas. Você se aborreceria, amoreco?

- Talvez não.

- Comigo o doutor Castanheira não fala assim. Mas olha, sem querer me gabar, sou secretária formada por correspondência e já li todinho o livro “Como agarrar o seu chefe e agradar seu emprego”. Não! É: “Como agarrar seu emprego e agradar o seu chefe”. O autor é aquele psicólogo americano que põe PHD depois do nome. Deve ser algum apelido. Milhões de exemplares vendidos!

- Já ouvi falar. Ele mora em Niterói e é bilheteiro nas barcas. Escreve livros nas folgas e assina Harris Morris Spielberg. Com PHD, claro. Mas agora que estou sabendo que a senhora é uma assessora tão competente...

- Que isso de senhora, benzinho. Pode me chamar de Diordi...

-  Diordi?

- Por completo, Diordileia Amarantes Fragoso.

- Então, Dona Diordi, faz favor de dizer ao deputado Castanheira...

- Ó, vou te contar, mas não diga que fui eu que falei. Aqui na câmara todo mundo chama ele de “Castanheira, Casca de Bananeira”. Escorregadio que nem ele só!

- Por favor, aproveita um momento em que ele não esteja escorregando e diga e ele...

- Fica frio, belezoca. Já anotei tudinho. O doutor pisando aqui, a primeira coisa que ele vai ouvir é o teu recado. Tá tudo anotadinho, não se preocupe. O senhor tá falando com uma secretária profissional. Tá tudo anotadinho.

- Deixa pra lá, dona Diordi, quando eu estiver com o deputado, falo diretamente com ele. Boa tarde!

- Fica com Deus, amor! Caramba! Haja paciência pra dar um atendimento profissional a essa gente que nem sabe explicar o que quer!