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A praça, as pessoas e seus conflitos
A praça Getúlio Vargas tornou-se palco de violentas aglomerações nos fins de semana. Muitos jovens. Muita pancadaria.
Já não é de hoje que a praça é cenário das contradições expostas de nossa comunidade: pouco iluminação, moradores de rua, prostituição, roubos e árvores caindo e outras sendo derrubadas.
Houve uma época que havia inclusive um posto policial ali instalado, tamanha a sensação de insegurança.
Se é assim no tradicional ponto geodésico do estado, na principal praça da cidade, imagine o que ocorre em outros cantos onde, infelizmente, a presença do poder público é ainda menor (senão inexistente)?
A saída fácil para a questão é ligar para o 190. Pôr no colo da polícia uma questão que não é dela. Ou então acusar um ente qualquer pelo fato de “a cidade não ter opções” para a juventude.
O problema é mais complexo. Tem a ver sim com ausência de opções. Afinal a cidade tem uma agenda cultural, esportiva e de entretenimento muito reduzida.
Só para se ter uma ideia, quando o Estado esteve mais presente (para multar) nas operações da Lei Seca, os números revelavam que os índices de alcoolemia na cidade eram em média maiores do que os de outros municípios. E isso, é claro, sem moralismos, tem repercussões muito negativas.
O fato de jovens se reunirem para brigar precisa, todavia, ser encarado sob vários aspectos.
Um estudo empreendido pela USP e UMESP ao longo de mais de 10 anos revelou que os jovens que se envolvem nas brigas de rua têm clareza quanto ao que ocorre. Identificaram pelo menos quatro fatores que sempre se repetem nos depoimentos: a) trata-se de uma escolha deliberada e consciente de quem participando briga; b) as brigas têm um fator de demarcação de território; c) são provocadas e incentivadas também por muito estímulo externo; d) e como busca de popularidade e poder.
Esses dados ajudam a perceber que a questão não é puramente legal ou policial. Trata-se de um desafio cultural mais profundo do que se imagina. A situação impõe formas criativas e responsáveis de abordagem.
Primeiro do ponto de vista das políticas públicas sociais. Em Friburgo, precisamos saber quem são esses jovens. Onde residem. Onde estudam. Onde trabalham. Que horizonte e que perspectivas têm.
Esses jovens se reconhecem como participantes dessa sociedade?
Sem conhecer as pessoas é difícil e injusto tecer qualquer conclusão ou, pior, planejar qualquer ação simplesmente para “limpar” a praça.
A praça tem sido vista muito por suas árvores e sua história e pouco pela gente que por ela passa e nela faz suas experiências de convivência.
Por fim, vale insistir na cultura de violência a que nos apegamos ao longo do tempo.
“Todos falam de paz, mas ninguém educa para a paz. As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos educando para a paz.” (Maria Montessori)
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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