Opinião e preconceito

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Opinião é uma exigência da atualidade. Saber a respeito do mundo e saber se colocar diante da realidade.

A tarefa, todavia, é árdua; afinal, há muita informação e muitos meios de comunicação. Há informação em tempo real sobre tudo. Isso é bom (já que nos dá mais condições de decidir e escolher), mas é também arriscado (porque, com tanta informação à disposição, como saber o que é e o que não é “verdade”? O que é notícia e o que é pura e simples fantasia?).

A grande batalha é processar as muitas informações e fazê-las se tornarem conhecimento. Ou seja, fazer um esforço intelectual para capturar as informações e trabalhá-las por meio da inteligência e da criatividade. Informação, por si só, é mera notícia. A agenda é fazer, da informação, conhecimento; e, mais do que isso: do conhecimento, opinião.

Em outras palavras: tomar partido das situações; defender o bem, lutar pela melhoria de vida, combater as injustiças e corrupções e, acima de tudo, disseminar a paz.

Faz parte do saber, saber comunicá-lo. Quem sabe, sabe se expressar; sabe ajudar os outros a ver melhor e a tomar posições com opinião séria.

Nisso tudo, os meios de comunicação são, ao mesmo tempo, um excelente e um péssimo instrumento. Tanto para alienar, quanto para esclarecer. Ao público, cabe o poder da escolha; cabe decidir esse ou aquele posicionamento. Opinião é, acima de tudo, escolha e posição.

Opinião, todavia, não pode se confundir com agressão. As palavras devem edificar. Quem usa as palavras para agredir deve ser, gentilmente, desconsiderado. As palavras são emissárias de ideias. E ideias são sempre bons ingredientes para transformar a realidade. Especialmente quando vêm acompanhadas de seriedade e amor ao próximo.

Em geral, opinião sob a máscara da agressão é o mesmo que preconceito. E, não raro, o preconceito tem mais a ver com pessoas do que com ideias. Às vezes, o problema não é “o que” se diz, mas “quem” está dizendo.

Mesmo entre os maiores militantes por direitos humanos, por exemplo, há resistência a determinadas pessoas. Não pelo que essas pessoas são; mas pelo que parecem ser, ou por aquilo que julgam que elas sejam.

Quando opinião se forma com base em especulações e ilações, o caminho está totalmente pavimentado para o preconceito. Sobre ideias (sobre opinião), é possível dialogar (mesmo com controvérsias); com preconceito, o que resta é silêncio ou, para almas mais despojadas, um sorriso de compreensão.

Por fim, vale uma advertência sobre as redes sociais e a impressão de que se está o tempo todo em contato com tudo e com todos. “As redes sociais não ensinam a dialogar porque nelas é muito fácil evitar a controvérsia. Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes.” (Z. Bauman)

A variedade de ambientes e personagens dá a sensação de pluralidade. Em geral, porém, o que se tem – graças aos algoritmos que regulam a dinâmicas das redes – é uma “ensimesmação”. Uma espécie de círculo vicioso em que quanto mais se fala sobre isso mais isso aparece na telinha.

Opinião só se forja sob a pluralidade das ideias e com o diálogo com a diferença. Fora disso, o que se tem é repetição e preconceito.

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