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A torcida não vai? Será? Por quê?
Depois de passar o final de semana tranquilo, curtindo a liderança do Campeonato Brasileiro da série B — essa é a minha realidade, esse é o meu torneio; azar da série A em não ter o Botafogo —, resolvi abordar um assunto polêmico. Não para este que vos escreve, pois tenho a minha opinião formada. Ao contrário da maioria, possuo convicções próprias. Não me deixo levar pela necessidade de vender notícia. Eu as produzo também, conheço o processo, os meandros e os “porquês”. Por isso sigo a Estrela Solitária, que substitui o coração no lado esquerdo do peito. Escrevo para a nossa legião de cinco milhões de apaixonados e para a conveniência, que insiste em criticar a torcida alvinegra e duvidar de sua força.
Confesso que, depois da Taça Libertadores de 2014, prometi que não tocaria mais no assunto. Não há o que discutir. O que a torcida do Botafogo fez no Maracanã foi covardia. Espetáculos marcantes, que proporcionaram aos alvinegros a eleição da sexta melhor torcida da América (a melhor do Brasil). Se não existe reconhecimento por aqui, há lá fora, com a devida isenção. Uma pena que o time, um dos piores da nossa gloriosa história, não correspondeu ao apoio da galera. Nem mesmo fizemos bonito para “agradecer” à organização da Taça Libertadores, que comemorou o retorno do Fogão à competição. Não precisamos disputar o torneio muitas vezes, tampouco levar o título para ser saudado com os dizeres: “O Gigante voltou!”. E esse reconhecimento pelo gigantismo incomoda — e muito — a conveniência.
No entanto, o amor pelo Botafogo é um pouco bandido. Vira e mexe, o torcedor é traído. Criam-se expectativas e o time decepciona. A paixão não diminui, pelo contrário. Mas ela é tanta que o medo da decepção supera qualquer otimismo. É uma característica típica do botafoguense desde os anos 2000. Talvez a camisa realmente pese. E com isso, o Glorioso acumula fracassos em competições nacionais e internacionais nos últimos anos. O Botafogo é o clube grande do Brasil há mais tempo sem um título brasileiro ou internacional. Enquanto isso, pra citar os anos recentes e apenas os rivais do Rio, o Flamengo (sem discutir os meios) ganhou dois brasileiros e uma Copa do Brasil; o Vasco, mesmo em dificuldades, faturou uma Copa do Brasil e foi semifinalista de Libertadores; e o Fluminense — que permitam os tricolores dar a minha opinião — vive, desde 2009, o melhor momento de sua história. Foram dois títulos brasileiros, uma Copa do Brasil, participações constantes e uma decisão de Libertadores.
O torcedor do Botafogo, que nunca — de verdade — precisou de títulos para amar o clube ou para tê-lo reconhecido como um dos maiores de todos os tempos assiste a tudo isso. Não inveja os rivais, e sim, sente a necessidade de ver o time campeão nacional (pelo menos) novamente. Caminhávamos nessa direção, acredito, quando começamos a construir uma base sólida em 2003; consolidamos-nos novamente no cenário estadual, ou seja, "terminamos o primeiro andar da obra”; mas a partir de 2010, antes do retoque final, construímos um telhado muito mais forte do que a nossa base poderia suportar. Caímos.
Dentro desse contexto, e de alguns outros que cito a seguir, é covardia tentar ridicularizar a torcida do Botafogo. Não estou justificando, apenas argumentando — também concordo que a frequência de torcedores deveria ser bem maior. É preciso analisar de maneira mais ampla, e até mesmo fazer um comparativo com os rivais cariocas. A média de público do Vasco como mandante em 2014, durante a série B nacional, foi de pouco mais de 14 mil torcedores. E isso porque, já na reta final — nas rodadas 34 e 37 — houve dois públicos grandes no Maracanã. A média do Botafogo na série A, lutando contra o rebaixamento, em crise, com um time pífio e sem perspectivas, foi de pouco mais de 11 mil. Bom? Claro que não. Mas, de acordo com pesquisas, o Botafogo tem cinco milhões de torcedores, e o Vasco de 12 a 15 milhões. Ou seja: na proporção (desconsiderando os momentos), a média deveria ser três vezes maior que a do Botafogo. Longe disso, não? Nesse ano teve jogo do Vasco em São Januário com menos de três mil torcedores. Alguém se lembra de algum comentário da imprensa? Se fosse o Botafogo...
Ainda nessa linha de raciocínio, o Flamengo, com seus 35 milhões de convenientes, deveria ter média de público sete vezes maior que a do Botafogo. Não dizem que os rubro-negros possuem quase 50% da torcida no Estado do Rio (que possui algo em torno de 12 milhões de habitantes)? Então, a média de pouco menos de 24 mil por partida em 2014 é uma vergonha! No estadual desse ano, a torcida do Botafogo foi maioria nos dois clássicos contra o Fluminense. No segundo, disputado no Nilton Santos, se tinha 20 mil no estádio 18 eram botafoguenses. Comentaram algo? Tentaram menosprezar a torcida do Botafogo no segundo jogo da decisão estadual contra o Vasco. O que aconteceu? Os alvinegros deram um show, e apesar de estarem em menor número, cantaram muito mais. Contrariando aquele velho ditado, sabemos que existe diferença entre um quilo de algodão e um quilo de chumbo.
Não quero aqui discutir o tamanho das torcidas ou a paixão dos torcedores. Apenas mostrar que a análise sobre a frequência merece uma discussão mais ampla e justa. Sem falso moralismo ou tendências. Existem outros motivos que afastam as pessoas dos estádios, e particularidades de acordo com cada clube. Generalizar é tentar vender uma inverdade. E como a maioria segue o que diz a conveniência, ela torna-se verdade.
Contudo, caros amigos alvinegros, seguimos firmes na nossa convicção. Quando menos acreditamos, a torcida comparece. Há vezes em que criamos expectativas de grande público e ela não se confirma. O Botafogo é assim, e apenas quem segue essa estrela entende. Ou pelo menos tenta. Alguém esperava tantos torcedores em Osasco, no jogo contra o Oeste? O Glorioso é um mistério gostoso de tentar desvendar. Entretanto, nunca vamos conseguir encontrar todas as respostas. Por isso, temos esse clube como religião. É uma crença! Somos de corpo e alma. Fazemos diferença, e não quantidade. Estádios lotados novamente? Serão consequência de novos dias gloriosos que estão por vir.
Saudações alvinegras, e até sexta, no estádio Nilton Santos!
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