Quando? Contra quem?

domingo, 07 de junho de 2015

Quarta-feira, dia 3 de junho, véspera de feriado. Por volta das 17h, próximo ao fim do expediente no trabalho, toca o meu celular. Quem me liga é um grande amigo, que não vejo há algum tempo.

“Que tal marcarmos um chopp para sexta-feira à noite, colocar o papo em dia e tal...”
“Seria um prazer, amigo. Mas não posso. Tem jogo do Botafogo. E eu vou ao Nilton Santos assistir a Botafogo x Mogi Mirim, às 22h.”
“O que? Quando? Contra quem?”

Sinceramente, lamento quem não entende, de fato, na prática, o significado da frase “amor incondicional.” Aos torcedores de outros times, o fato de sair de Nova Friburgo numa sexta-feira para assistir a um jogo de futebol no Rio de Janeiro, contra um adversário de pouca expressão, parece loucura. E não deixa de ser. O Botafogo não pode jogar numa sexta-feira contra o Mogi Mirim. E, pelo menos pra mim, não jogou.

Sair de Nova Friburgo para ver Botafogo x Mirim, Botafogo x Cruzeiro, Botafogo x Boca Juniors, numa quarta, sexta, terça, sábado ou domingo não faz a menor diferença. Se tiver a tradicional camisa alvinegra com a Estrela Solitária no peito pouco importa o adversário, a divisão, o horário, a motivação. É o Botafogo que vai estar em campo. E quando o Glorioso joga é dia de festa, emoção, devoção, encontros e reencontros. O primeiro deles, ainda à tarde, com o ídolo Wagner. O camisa 1 do Fogão em 1995, um dos principais responsáveis pelo bicampeonato brasileiro. Simpático e solícito, o ex-goleiro confirmou presença na segunda edição do evento Abrace o Botafogo, no mês de julho, em Sumidouro. De seu estabelecimento, em Niterói, seguimos animados pela certeza de, em breve, podermos passar uma tarde com um dos heróis de nossa história.

Chegamos cedo ao estádio Nilton Santos. E os olhos começam a marejar quando, da linha amarela, avistamos a nossa casa. Essa cena já se repetiu dezenas de vezes, mas é como se fosse a primeira. Ainda lembro daquele Botafogo x Fluminense de 2007, inaugurando o Niltão. Assim como recordo de tantos outros duelos, como aquele contra o River Plate pela Sul-Americana do mesmo ano. Mas desta vez o adversário é o Mogi Mirim, e estamos numa sexta-feira. Havia esquecido.

Na verdade, só lembrei mesmo desse fato no outro dia. Quando estacionamos o carro e nos dirigimos para a famosa concentração, ao redor de nosso estádio, nos fechamos em nosso mundo. O “mundo alvinegro”. E neste planeta habitado por 5 milhões de escolhidos não existe modismo. Vestidos com o manto, nós estamos resguardados pela história de um dos maiores clubes de todos os tempos (gosto sempre de lembrar: eleito pela FIFA). E para ter esse reconhecimento, não precisamos de títulos ou de viver da ilusão de ter a maior torcida do mundo (?). Somos Gigantes por ser o Botafogo. Simplesmente por isso.

Dentro desse contexto, o Botafogo passeia na série B até o momento. A única dificuldade no torneio foi criada pelo próprio Botafogo, diante do Paraná, com falhas individuais e a expulsão de Willian Arão. De resto, um desempenho abaixo da média contra o Atlético-GO, que resultou no empate, e uma leve falta de ousadia contra o Payssandu, compensada com o gol de Pimpão no fim da partida.

Diante do Mogi Mirim, uma fraca atuação no primeiro tempo. A festa da torcida Loucos pelo Botafogo, que segundo o Renê Simões “não para de cantar nem por um minuto”, mereceu muito mais elogios do que a atuação da equipe. No entanto, a fragilidade do adversário não representou riscos em momento algum. O gol de Rodrigo Pimpão – um achado nos piores 45 minutos do Botafogo no campeonato – aumentou a certeza de que mais três pontos seriam conquistados.

A consolidação da vitória aconteceu com os gols de Bill e Lulinha, destaque em um segundo tempo um pouco melhor do Glorioso. A opção de Renê Simões por escalar três atacantes funcionou quando um dos componentes do trio era Sassá. Jogador mais veloz e dinâmico para cair pelas pontas. Desta vez, prevaleceu a qualidade técnica e algumas boas atuações individuais – podemos citar a segurança de Renan Fonseca, a intensidade de Gilberto, o toque diferente de Daniel Carvalho, a boa movimentação de Pimpão e Bill e a noite inspirada de Lulinha, que participou dos três gols. Renan pouco trabalhou. Pedro Rosa ainda sente o peso da camisa. E Camacho surpreendeu com excelente desempenho, principalmente na etapa final.

Fim de papo no estádio Nilton Santos. Aplausos para um time limitado, porém esforçado. Perfeito para o contexto atual. O Botafogo está apenas de passagem pela série B, e tudo voltará ao normal em breve, com o Glorioso na primeira divisão, brigando pelo título. Não é um sonho, e sim, a consequência natural de um trabalho que começa de maneira bastante competente. 

Quanto ao meu amigo? Certamente, depois de mais algumas sextas-feiras até o final deste ano, aceitarei o convite. Saudações alvinegras! Até a próxima coluna!

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