O que fica?

domingo, 13 de março de 2016

Fica o gol, o Riba, a evolução do Salgueiro, o conjunto, a bomba no travessão. Fica a desatenção, o gosto amargo, a sensação de displicência em tantos contra ataques desperdiçados. Prefiro ainda ficar com o domínio, a organização, o poder de marcação, o talento de Emerson, o crescimento de Airton e a evolução de Salgueiro. A invencibilidade que, entre os times da série A do Campeonato Brasileiro, veste preto e branco. E só. Só um ponto? Sim. Mas os dois que ficaram não podem “negativar” o que há de positivo. E não é pouco.

Não dá pra discutir o gol no último minuto. Sem tirar os méritos pela rápida cobrança de escanteio, e a boa colocação do Gum (difícil admitir, mas é preciso ser imparcial), o Botafogo – e nenhum time – poderia ter esse lapso de desorganização no último lance da partida. Mas se ninguém erra ou nenhum jogador tem um momento de inspiração não tem gol. Não há futebol. Fica a lição para as próximas partidas, e até mesmo para as vindouras semifinais do campeonato carioca. Pode custar uma classificação ou até mesmo o título.

“Bom” que aconteceu agora. Pela organização e futebol apresentados pelo Botafogo até o momento, é possível acreditar que essa desatenção dificilmente acontecerá novamente. Esse é o raciocínio otimista, mas com base. E passou da hora de o botafoguense se tornar um pouco mais otimista, em todos os sentidos. Voltar a acreditar que a camisa Mais Tradicional do futebol brasileiro tem força. E não é pouca. Todo alvinegro sabe disso, mas é preciso “praticar”. Os olhos que observam e elaboram uma análise sobre o clássico deste domingo devem considerar alguns pontos.

O Botafogo remontou um time que era fraco no ano passado, suficiente apenas para reconduzir o Glorioso ao seu devido lugar. Dezessete jogadores se foram – nenhum deles indispensável, pelo contrário – e outros sete chegaram. Nenhum deles badalado. Os recursos são limitados, e não há muita chance para o erro na hora de contratar. Ainda não dá para afirmar que o Botafogo errou, tampouco acertou. Carli parece mesmo ser bom zagueiro, e Diogo Barbosa é, digamos, regular. Bruno Silva cumpre bem a função dele, e Salgueiro vai crescer de produção. Dá para ver que sabe jogar, e diante do Fluminense, já houve uma sensível melhora. Lizio precisa de um pouco mais de tempo, e pode sim ajudar. Sobre Yaca Nuñez ainda é difícil concluir alguma coisa.

Aliás, ainda é possível concluir muito pouco de quase nada. Mas alguns pontos parecem inquestionáveis. O Botafogo precisa contratar para a sequência da temporada. Pelo menos um meia e um controavante para serem titulares. Contudo, o que o time produz até o momento surpreende de forma positiva. Ribamar amadurece, Airton é outro jogador e esse garoto, o Emerson, tem um potencial enorme. Sem exageros: bem trabalhado é zagueiro de Seleção Brasileira. O chute forte e preciso é apenas um “plus” para esta que pode ser a melhor revelação do Botafogo em 2016. Existe organização, padrão tático e comprometimento. Há uma luz no fim do túnel, e para que essa mesma iluminação seja plena também ao final dele, basta acrescentar mais alguns ingredientes.

Rodrigo Lindoso e Gegê, taticamente, até cumprem uma função importante. Mas a limitação técnica pode comprometer em determinado momento. São duas peças que, na atual engrenagem de Ricardo Gomes, se encaixam e ajudam a entender o sucesso momentâneo. Mas essa “máquina” precisará produzir mais em certas situações. E o perigo mora exatamente nesse ponto. Diante do Fluminense, muitos contra ataques foram interrompidos pelo aspecto da limitação. Seja nos pés de Gegê, Lindoso, Bruno Silva e até mesmo Ribamar. Houve displicência em alguns momentos sim, e a lamentar, a noite pouco inspirada de Neilton. Não entrou bem no jogo, mas possui potencial (dentro da realidade alvinegra) para recuperar a condição de titular com o tempo. Embora a titularidade de Neilton, ao que parece, possa implicar em uma mudança de esquema. Ricardo Gomes merece crédito e autonomia para definir o que será melhor.

Então... O que fica de mais um clássico? Um ponto, a organização, a evolução dos garotos, a melhora do Salgueiro, o poder de marcação, o domínio no contexto geral do jogo e o merecimento da vitória. Há vitórias que enganam, mas também existem empates e derrotas que escondem a realidade. A nossa é “menos feia” do que parecia antes de a bola rolar. Houve um lance, uma desatenção. Mas houve coisas boas também, que sobrepõem a esse lance nos acréscimos do segundo tempo. Não é o time dos sonhos e nem do tamanho de uma dos 12 maiores clubes de todos tempos, mas sigamos em frente, em nossa “Estrada de Louros”, sempre conduzidos pela Estrela Solitária. O que fica? O gosto amargo sim, mas também o sabor de quero mais. De podemos mais. De somos mais... O Mais Tradicional! Sempre!

Saudações alvinegras! E com uma dúvida: o que é derrota? Até a próxima semana...

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