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O Brasil agradece, Botafogo!
Noite de sábado. Estou eu retornando do último jogo do Botafogo na temporada, no estádio Nilton Santos. Olho para o céu do Rio de Janeiro, belo, como de costume. No entanto, demoro a localizar alguma estrela. Eis que, na altura da Avenida Brasil, lá estava ela. Ironicamente Solitária, brilhante, única. Peguei esse pequeno trajeto, de aproximadamente 20 minutos, e fiz um comparativo com o futebol brasileiro em 2015. Ele existiu, mas não foi completo. O seu time Mais Tradicional, que praticamente lhe deu três títulos mundiais, não estava na principal divisão do país. Assim como não havia um estrela sequer para enfeitar aquele belíssimo céu. Depois de uma longa caminhada, ela apareceu. E ele voltou. O Botafogo, que para muitos poderia terminar esse ano decretando falência. Tenho pena de quem ainda duvida dessa camisa.
Mas tenho pena, principalmente, daqueles que possuem um universo de raciocínio limitado. Dos que não reconhecem o gigantismo de um dos 12 maiores clubes de todos os tempos do futebol mundial (FIFA). Para este que vos escreve não é surpresa. Afinal, o brasileiro tem a péssima mania de valorizar o que é imposto por parte da mídia, que apenas trabalha para atender a alguns interesses. Cito aqui o atual futebol europeu, ou o time da moda, o Barcelona: nada mais é do que o Brasil que outrora deixamos de ser.
Voltando à viagem, ainda observando o céu, me perguntei: o que seria dele se não houvesse aquela estrela? Existiria sim, mas não teria o mesmo charme, a mesma beleza. O céu estrelado é a esperança de um belo dia que há de vir na manhã seguinte. Um céu sem estrelas é apenas um céu. Pode ser, pode não ser. Adaptando ao futebol, por exemplo, qualquer um poderia ter a maior torcida do país. Tal fato casa com o momento histórico e a necessidade de manipulação e controle de massas num momento delicado da economia ou política brasileira, sobretudo na década de 80. Mas só o Botafogo poderia ser o Botafogo.
O futebol brasileiro sem o Glorioso seria um céu sem estrelas. Quem seria capaz de, ao longo de toda a história, abrigar tantos craques e os disponibilizar para fazer da Seleção Brasileira a maior potência do futebol mundial? Talvez – repito – talvez seríamos bicampeões da Copa do Mundo. Poderíamos hoje não estar escrevendo e reverenciando um certo Anjo das pernas tortas, uma Enciclopédia, um Furacão, um Canhotinha de Ouro. Faltaria um pedaço irrecuperável na história do esporte mais popular do planeta.
É por isso, Botafogo, que o futebol brasileiro te agradece. Não vou ser aqui egoísta em citar apenas as nossas glórias, como fazem alguns pobres de espírito e de história. O que o Botafogo conquistou para ele mesmo interessa apenas aos alvinegros. E é suficiente para manter acesa a chama do amor de cinco milhões de escolhidos. O tradicional alvinegro de General Severiano é muito mais do que apenas taças, mídia, quantidade. Nós somos a qualidade. Nós somos integrantes e co-responsáveis por uma trajetória pentacampeã. O Botafogo é a parte mais irreverente, inacreditável e apaixonante dessa magia chamada futebol.
Ah, se não fosse o Botafogo... Como faríamos justiça a Nilton Santos, se não houvesse um templo como o nosso estádio, para batizá-lo com o nome do Enciclopédia? Qual seria o nome daquele belíssimo estádio em Brasília? Um outro qualquer, acredito, mas sem o mesmo sentido. O Botafogo faz o que parece incompreensível ser compreendido. Surpreende, renasce quando menos se espera. Mesmo em um ano difícil, diverte o país. A promessa de nudez de Maitê Proença gerou expectativas que foram além dos campos. Só mesmo a paixão verdadeira leva torcedores a promessas como essa, devidamente paga na noite do último domingo.
A brincadeira de Maitê é apenas um exemplo. Nós lançamos o tradicional “Olé” nos estádios, através de Garrincha, e iniciamos a era dos cânticos em forma de declaração de amor nas arquibancadas a partir do “Ninguém Cala”. O que seria do futebol brasileiro sem você, Botafogo?
Ainda bem, Glorioso, que você mesmo reconhece a sua importância. E isso basta. O esforço em meio ao cenário desafiador deste ano o reconduziu à elite do futebol brasileiro. A temporada termina com um empate sem gols com o América-MG, em uma partida onde a torcida alvinegra marcou um golaço. Esperamos, Botafogo, que você tenha percebido: essa gente que te segue merece muito mais! Sabemos que a série B era o que poderia oferecer no momento, mas a partir de 2016 dá para ousar mais nos objetivos. Renovar – apenas com alguns -, reformular, contratar. Planejar. Verbos que irão fazer parte do cotidiano a partir de agora. A saudade vai bater forte até o final de janeiro, mas resistiremos. E aguardaremos com ansiedade por você, Botafogo. Enquanto isso, o Brasil lhe agradece! Obrigado por voltar, e estrelar novamente o céu do futebol mundial...
Antes de encerrar a coluna desta semana, lembro-me, por acaso, de Willian Arão. Quase havia me esquecido, pois a imensidão do Botafogo torna qualquer jogador dispensável. E este ingrato parece ser apenas mais um. Cabe aqui um elogio à diretoria do Botafogo pela condução do caso. Chega de bondade... O Gigante não pode ser pisoteado por uma formiga! O caminho é pagar os 400 mil, renovar e vender. Ou utilizar como moeda de troca. Nem que seja na justiça! Afinal, dentro de uma história tão rica, Arão é troco. Mais um “João”...
Saudações alvinegras, e até a próxima semana!
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