É mesmo hora de cornetar?

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sexta-feira, chuva, frio... dia de descansar, sair pra jantar, bater papo com os amigos ou ir ao cinema. Roteiro perfeito para a conveniência. Para o botafoguense, o dia mais aguardado pelo trabalhador brasileiro foi mais um daqueles de devoção. Movidos e guiados pela Estrela mais brilhante do futebol mundial, os alvinegros tiveram novo desafio na caminhada de retorno à elite do futebol nacional. Adversário fraco, jogo no Rio de Janeiro, aproveitamento excelente no Nilton Santos, time descansado. Vitória tranquila, certo? Quem torce pelo Botafogo sabe que não é bem assim que funciona.

Comentamos algumas vezes que o Botafogo é o time a ser batido nesta edição da série B. Até que possamos novamente montar o mosaico (simbolicamente, é claro) com os dizeres “O Gigante voltou”, o caminho a percorrer é longo. São 38 oportunidades para times como o Boa Esporte, adversário desta sexta, poderem dizer – com muito orgulho – que tiveram o prazer de jogar contra o Glorioso. É exatamente nesse ponto que mora o perigo. O respeito cria dificuldades naturais ao time de Renê Simões, principalmente quando a partida acontece no templo alvinegro, o estádio Nilton Santos. O Boa veio ao Rio de Janeiro pra jogar fechado, por uma bola, e conseguiu mais rápido do que poderia imaginar.

O gol do time mineiro no início de partida denuncia um detalhe que Renê terá que acertar. Com a saída de Marcelo Mattos, a característica do meio-campo muda um pouco. Talvez por isso Arão tenha ficado mais preso, para auxiliar Giaretta na marcação. Até que eles pudessem se encontrar em campo, deu tempo de o Boa Esporte encontrar um buraco na defesa e abrir o marcador. Parecia apenas um susto. Dali em diante, e até o final do jogo, o Botafogo teve quase 75% de posse de bola. Empatou relativamente rápido com Pimpão, ainda na primeira etapa. Apesar dos sustos proporcionados por dois ou três contra ataques do Boa Esporte, o Fogão teve o controle do jogo. Mas faltou o espírito de série B. A chuva e o frio fizeram os jogadores pensarem que era “uma sexta-feira para ir ao cinema.”

Talvez pelo fato de a camisa praticamente jogar sozinha o time se acomode. Toque pro lado, tentativas de calcanhar, lençol, caneta... tudo é válido, mas quando o jogo está resolvido. E ele nunca esteve. Ao manter a bola nos pés, o Botafogo pensava que poderia resolver a qualquer momento. E realmente poderia, se Bill tivesse aproveitado pelo menos uma das duas oportunidades que teve. Não aconteceu, e o Glorioso amargou um empate em casa, contra um adversário fraco, e perdeu a oportunidade de abrir distância na liderança da competição (que ainda lhe pertence).

Essa é a análise do jogo. Mas será que é mesmo a hora de cornetar a equipe?

Existe uma diferença grande entre comentar e criticar, analisar e cornetar. A cobrança é natural pela grandeza do Botafogo, e torna-se ainda mais intensa pela necessidade de retornar ao devido lugar – necessidade mesmo, questão de sobrevivência. No entanto, antes de qualquer cornetada, é bom lembrar que o nosso time é de série B. Veste uma das camisas mais importantes do planeta, mas tem potencial de equipe média, montada para consertar as besteiras feitas por diretorias recentes e recolocar o clube na elite. Há seis meses não tínhamos nem elenco, e estávamos – continuamos – completamente endividados. Mas já existe perspectiva. E qualquer crítica exagerada pode atrapalhar esse processo. O Botafogo está invicto na série B, ainda não perdeu em 2015 no Nilton Santos e, mesmo depois do empate com o Boa, arrisco dizer que sobra no torneio. Sinceramente, não consigo observar quatro times que possam ameaçar o nosso acesso. Não é questão de se contentar com pouco, e sim, aceitar que a nossa realidade neste ano é outra.

Dentro desse contexto, temos que analisar com cuidado o que deu errado no duelo contra o Boa. Soberba? Talvez sim. Mas não há possibilidade de cobrar muito mais do Luis Ricardo, do Giaretta, Diego Jardel, Elvis, Sassá, do Bill. Apenas pedir que voltem a ter o espírito de série B nas próximas partidas. Dentro das limitações proporcionadas pelo orçamento apertado, esse time é mais do que suficiente para subir de divisão. Ano que vem é outro papo. Possivelmente com mais recursos, de volta à primeira divisão, com a casa um pouco mais arrumada... Mas antes, temos que vencer essa etapa.

No entanto já que a maioria cornetou, reservo-me no direito de dar um pitaco também. Na verdade, está mais para um pedido. Caro Renê: eu até aceito que continue escalando o Giaretta como titular. Mas por favor: não coloque mais esse tal de Henrique pra jogar!

Desabafo feito, voltamos a nos concentrar na campanha de retorno à série A. Saudações Alvinegras, e até a próxima!

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