Ainda querem falar de amor?

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Quarta-feira, 14 de setembro de 2016. Há 21 anos o Botafogo não conquista um título nacional. Sua última participação em Libertadores ficou bem abaixo da expectativa. O clube acaba de passar por uma série B de Brasileiro, e de perder duas decisões de Estadual. Na série A deste ano, uma campanha extremamente irregular. Ameaça de rebaixamento e falta de perspectiva até determinado momento. Troca de comando e incertezas quanto ao futuro. Cenário difícil na Copa do Brasil. Mas era quarta-feira, 14 de setembro de 2016. E lá estavam mais de 11 mil alvinegros, lotando a Arena Botafogo, cantando além dos 90 minutos. Eles nunca desistiram. Não seria agora.

Do Z-4 ao G-4, numa escalada que parecia improvável, o Botafogo precisava provar para o seu torcedor e para si próprio que algumas utopias podem sim, virar realidade. O Glorioso jogou pra desafiar a lógica. E fez tudo o que poderia, mas sofreu um gol. Não fez ao menos um diante do Santos. E olha que merecia mais do que apenas uma bola na rede. Qual a lógica? Faltou lógica.

Nenhum botafoguense dormiu bem. Duvido. Talvez poucos tenham dormido. E quem conseguiu fechar os olhos preferia não tê-los aberto na quinta-feira. Havia um gosto amargo na boca do alvinegro, que gostaria de pronunciar, de forma doce, o “estamos na briga”. Não mais estávamos naquele momento. "Poderia acabar logo esse campeonato!" "Falta muito para o próximo jogo?" O alívio pela quase certeza de que não existem mais riscos de rebaixamento transformou-se rapidamente em frustração. A contradição quase leva o botafoguense à loucura! E o faz esquecer quais são os verdadeiros objetivos para este ano. Mas sinceramente... Quais são eles? Por que não sonhar? Não podemos. Não podemos?

O número mágico é 46. O destino, as mãos de Sidão e o esforço e persistência de Rodrigo Pimpão levam o Glorioso aos 38. Mas já? Poderia ser até menos de 30! Ainda? Poderia ser 41... O Botafogo não foi bem na Bahia, pouco incomodou o Vitória, mas venceu. Mesmo desfigurado, desfalcado e pouquíssimo inspirado. Talvez no pior jogo da equipe sob comando de Jair Ventura. Pior até mesmo do que no fatídico duelo com o Cruzeiro, pela Copa do Brasil (até o 2x2). Cadê a tal da lógica?

Sinceramente... quando vejo a imprensa exaltando a torcida do time do cheirinho e a sua “paixão” fico incomodado. De verdade. Ir ao aeroporto nos bons momentos não é novidade. Difícil é invadir a pista de pouso e subir na asa do avião. Fazer festa neste mesmo aeroporto para receber um jogador é fácil. Difícil é parar a cidade e transformar em evento a apresentação de Seedorf. Difícil é ficar 21 anos sem ganhar um título sequer, sendo prejudicado por arbitragens em vários momentos, e ainda sim ver a torcida aumentar de tamanho. Difícil é suportar dois rebaixamentos e a mídia, a todo o momento, especulando uma possível falência. A paixão de quatro milhões sempre sustentou os inúmeros renascimentos do clube.

Com dinheiro é fácil. A disparidade absurda na divisão dos direitos de transmissão de TV se mistura à diferença de espaço concedido nos veículos de comunicação. Quando está mal nos gramados, o basquete vira o esporte mais popular do país. Ou a administração é um exemplo. Ainda assim, com tudo isso, sobrevivem das conquistas da década perdida. Grande parte delas, de fato, questionável.

Jejuns, decepções, mídia negativa, falta de dinheiro, classificações e títulos perdidos por erros de árbitros. Nada disso é capaz de diminuir o sentimento do botafoguense. Pelo contrário. Quartas-feiras e domingos como os desta semana que passou apenas reforçam toda a magia que envolve a missão de ser escolhido pelo Glorioso. Por favor, amigos... Não venham falar de amor sem antes torcer pelo menos um dia pelo Botafogo...

Saudações alvinegras! E até a próxima...

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