Acordei...

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Caros amigos, preciso compartilhar essa história com vocês. Aconteceu algo entranho no dia 30 de novembro de 2014. Lembro-me que houve um Botafogo x Santos, na Vila Belmiro, e nós perdemos. São vagas as lembranças, mas recordo-me de ter visto lágrimas nos rostos de torcedores, uma imensidão tomada pela tristeza de quem vive e respira a história de um clube de futebol. Aquela gente apaixonada estava preocupada com o futuro. O céu estava absolutamente negro, nublado, sem o brilho de uma estrela sequer. Sem o brilho de uma Estrela Solitária que conduz a vida de milhões de escolhidos. 

Adormecemos naquela noite, eu, o Gigante, e tantos outros. Acordamos apenas no dia 10 de novembro deste ano. Um pesadelo de quase um ano, repleto de capítulos que proporcionaram os mais variados sentimentos a quem ama incondicionalmente o Mais Tradicional. Não foram raros os momentos em que nos debatemos, tentamos acordar, nos reviramos. Mas estávamos presos àquele sono profundo, tenebroso, incerto. 

No primeiro momento do pesadelo, lembro-me de alguns jornais que questionavam a sobrevivência do Botafogo. “E agora, Glorioso?”, estampava um deles em sua primeira página. E o torcedor, preocupado, tentava encontrar um norte, uma motivação para responder positivamente àquela pergunta. Talvez na força, na magia daquela camisa. Na nova diretoria que chegava para tentar consertar os inúmeros erros do passado recente. Carlos Eduardo Pereira assumiu, e apostou em Renê Simões e Antônio Lopes. Junto a eles, uma gama de jogadores desconhecidos. Sonho louco! Confesso que, já nesse momento, me revirei novamente e tentei acordar. Mas o pesadelo estava apenas começando. Renan Fonseca, Roger Carvalho, Pimpão, Bill, Thomas, Diego Jardel, Willian Arão. Até mesmo o mais otimista dos alvinegros colocou à prova a sua fé.

No entanto, em meio a tantas incertezas, uma demonstração de amor. Jéfferson, o melhor goleiro do Brasil, abriu mão de qualquer outra proposta para fazer história no Botafogo e ser o líder de um processo de reconstrução. Nesse exato momento, acreditei que poderia transformar aquele pesadelo em um sono mais leve. Ou minimamente menos conturbado. No muro dos ídolos está o reconhecimento a quem fez do Glorioso a sua casa, a sua razão de ser, o seu objetivo. Obrigado por tudo, capitão.

O Campeonato Carioca começa. O time não chega a ser empolgante, mas surpreende. Existia um norte. Voltamos a acreditar na força da nossa camisa. Desacreditados, chegamos à decisão, fomos massacrados pela mídia, mas novamente provamos o nosso gigantismo. Duvidaram da nossa torcida, e nós montamos o mais belo mosaico daquela final. Não vencemos no campo, mas de certa forma saímos fortalecidos. A nossa grande batalha ainda estava por vir.

Imaginem vocês... No meu pesadelo, disputaríamos a série B do Campeonato Brasileiro! Como pode? Um dos 12 maiores clubes de todos os tempos, segundo a FIFA, tricampeão do mundo (Alô diretoria! Vamos correr atrás para reconhecer o que é nosso) não estava na elite do futebol brasileiro? Difícil acreditar e digerir. O pior é que, durante todo o momento em que estive adormecido, nenhum jornal colocou o Botafogo na tabela da série A. E os adversários, sem tradição alguma, me fizeram acreditar por todo esse tempo que tudo aquilo era verdade. Pasmem!

Os sete primeiros jogos mostraram que tudo, realmente, não passava de um pesadelo. Seis vitórias e um empate, para reafirmar que o Botafogo não estava no lugar condizente com a sua grandeza. Ao olhar para a tabela e ver o Glorioso na primeira colocação, era estranho e confuso ver um B ao invés de A. Mas até no melhor dos sonhos ou pior dos pesadelos nada é fácil para o Botafogo. Derrota para o Macaé, eliminação da Copa do Brasil... Demissão de Renê Simões, saída de alguns dos principais jogadores como Marcelo Mattos, Pimpão, Bill, Gilberto... E agora, Botafogo?

Confesso a vocês que nenhuma indagação me deixa tão irritado quanto essa. Como assim, e agora? O clube que já teve Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas, Gerson e tantos outros jamais se entregará. Nada nunca será impossível! Sempre que for necessário, a fênix alvinegra vai renascer. E não há explicação lógica para isso. Não existe ciência ou crença que possa definir o que é o Botafogo. O nome por si só já traz consigo o próprio significado. Misterioso, intrigante e apaixonante.

É impressionante como o Alvinegro de General Severiano se reinventa. E inventa. Chegam Neilton, Navarro, Lindoso... E Ricardo Gomes, há anos afastado do futebol por conta de um AVC, para tentar dar continuidade a uma difícil missão. Sonho ou pesadelo? Nesse momento já nem sabia mais. Em campo, muitas dificuldades. Uma estreia com empate sem gols com o Luverdense. Por que acreditar? Porque era o Botafogo.

Quem veste essa camisa logo sente que é diferente. Neilton e Navarro encaixaram perfeitamente, e fizeram do Botafogo o ataque mais positivo entre as quatro divisões do futebol brasileiro. Essa, talvez, tenha sido a parte mais tranquila do sono! Mas nada é fácil para o Glorioso, repito. Perde para o Payssandú, com o Niltão lotado, é derrotado pelo Ceará e empata com o Oeste no Rio de Janeiro, mas vence o Vitória e o América-MG fora de casa, e ainda goleia o Náutico. O Glorioso, meus amigos, é mais convicta certeza no mundo de incertezas. É o fato mais verdadeiro em meio ao inexplicável.

Dez de novembro de 2015. Depois de um sono profundo, pesado, com momentos felizes e outros de inteira desconfiança, nós acordamos. O responsável por acionar o despertador foi um jogador que chegou de repente, pouco atuou, e já foi fundamental. Ronaldo é mais um daqueles exemplos clássicos de que essa camisa tem um poder fantástico! Ela transforma, inspira e direciona. E logo contra o Luverdense, em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. O adversário do 0x0 e das incertezas confirmou que o Botafogo é imortal. A nossa bandeira e o grito da nossa torcida estiveram presentes nos lugares mais improváveis do país. A reafirmação do gigantismo é a parte doce do amargo pesadelo.

Um ano depois, levanto-me da cama. Abro aqueles mesmos jornais e vejo a imagem da mais fanática torcida do Brasil festejando. Loucos! Jogadores retratando o quão prazeroso é vestir o manto mais tradicional do Brasil. E todos relacionando o Botafogo à série A. Agora sim, novamente acordados, de pé, o pesadelo termina. E ainda disseram que o Botafogo iria acabar... Estavam enganados! Tenho pena de quem ainda duvida dessa camisa. Ela joga! A torcida joga! O espírito dos nossos grandes ídolos joga! É um clube diferente, e os escolhidos sabem disso. Para cada dose de desconfiança, uma prova de nossa grandeza. 

O país se rende e agradece o retorno de um Gigante. No campo, na bola, sem ajuda, sem armações para encher a boca e dizer que nunca caiu. O verdadeiro Gigante cai e mostra força. O covarde se esconde atrás de mentiras. Obrigado por existir Botafogo! O futebol mundial agradece junto com os seus milhões de apaixonados! O futuro Glorioso nos espera...

Na próxima semana, posso até mesmo escrever sobre o título. Mas, sinceramente, não faço questão. Que ele venha para coroar a missão cumprida, mas a camisa e a história do Botafogo pedem mais. O jogo que era pra ser de festa, contra o Santa Cruz, mostra isso. Virou o jogo do alerta, a partida da certeza de que, desse time, poucos merecem continuar no clube. Arão reclamou das vaias durante todo o ano. De fato, caro ingrato desconhecido que renasceu para o futebol depois de vestir o manto, foram poucos os momentos que mereceram aplausos. Campeão ou não, já posso desejar um feliz ano novo, nação alvinegra! Um 2016 repleto de alegrias para todos nós, alvinegros, de volta ao nosso verdadeiro lugar. E a série A do futebol brasileiro volta a ser a série A...

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