Um protesto contra a violência

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Caros amigos, logo no início deste novo ano, fomos surpreendidos com a notícia da rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, que contabilizou mais de 55 mortes. Este foi o terceiro maior massacre em presídios da história do país.

Muitos analistas da situação apontaram entre os motivos do episódio o desrespeito dos direitos fundamentais dos presidiários que, entretanto, não justificam, obviamente, o fato hediondo em si. É triste perceber que esta notícia passará como uma a mais na história da violência em nosso país, não comovendo a população para uma mudança objetiva desta situação.

A este respeito, lembro a análise do Papa Francisco: “Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma”. (EG, 54)

Digo isto porque percebo que a verdadeira barbárie, recorrente em todo o mundo, origina-se não nas guerras, mas nas relações sociais básicas. Pois, onde há egoísmo, intolerância, indiferença, em suma, desrespeito a dignidade do outro nascem todos os crimes contra o ser humano nos mais diversos âmbitos de sua existência. Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina que: “é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias” (Mt 15, 19). E, por isso, é preciso reconhecer que o principal campo de batalha contra o mal no mundo é o coração. Nesta luta, não pode haver trégua!

O desejo de uma sociedade que buscasse decididamente a supressão das causas de tantos sofrimentos nos faz perceber o quão necessária é a pregação do Evangelho e como o mundo espera ansioso a manifestação desses verdadeiros arautos da paz. Pois, apesar das iniciativas públicas serem importantes para o progresso da justiça e da paz, nunca substituirão a força efetiva da conversão dos corações à verdade de Deus e do Evangelho, que é missão de todos os cristãos.

Seja este, portanto, nosso protesto contra a violência: o desejo sincero de conversão e uma vida coerente.

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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