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“Somos membros uns dos outros” (Ef 4, 25)
Caros amigos, neste último domingo, 1º, em que celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja no mundo comemorou o Dia Mundial das Comunicações sociais, no qual somos chamados a refletirmos sobre a importância e a riqueza das relações humanas para a construção do Reino de Deus no meio de nós.
A Doutrina Social da Igreja ensina que todo homem é único e irrepetível na sua individualidade, um ser aberto à relação com os outros na sociedade. “O conviver social na rede de relações que interliga indivíduos, famílias, grupos intermédios em relações de encontro, de comunicação e de reciprocidade, assegura ao viver uma qualidade melhor” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 61).
As relações pessoais são constitutivas do plano de salvação: Deus não quis salvar e santificar os homens individualmente, excluindo qualquer ligação entre eles. As sagradas escrituras testemunham que o Senhor, desde o início do seu plano salvífico, constituiu um povo que o conhecesse na verdade, servindo-o santamente. Escolheu homens e mulheres não só como indivíduos, mas como membros de uma comunidade (cf. Gaudium et Spes, 32).
O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, lembra que desde quando se tornou possível dispor da internet, a Igreja buscou fomentar o seu uso para promover o encontro das pessoas e a solidariedade entre todos. Porém, quando usado equivocadamente, este meio de comunicação pode gerar terríveis consequências de divisão, segregação, injustiças e mentiras (fake news).
Lamentavelmente, no cenário atual, é comum perceber que a comunidade das redes sociais não é sinônimo de coesão e solidariedade. Os grupos digitalmente unidos permanecem agregados em torno, apenas, de interesses ou argumentos caracterizados por vínculos frágeis. A identidade, muitas vezes, funda-se em contraposição ao outro: define-se mais a partir daquilo que divide do que daquilo que une, dando espaço à suspeita e à explosão de todo o tipo de preconceito – étnico, sexual, religioso, entre outros.
“Esta tendência alimenta grupos que excluem a heterogeneidade, alimentam no próprio ambiente digital um individualismo desenfreado, acabando às vezes por fomentar espirais de ódio. E, assim, aquela que deveria ser uma janela aberta para o mundo, torna-se uma vitrine onde se exibe o próprio narcisismo” (Mensagem para o 53° Dia Mundial das Comunicações, 02 jun. 19).
Outro aspecto que merece destaque, diz respeito a insensibilidade que assume contornos de desumanidade. Ávidos de curtidas (likes), muitos preferem filmar cenas de sofrimento de toda sorte, ao invés de prestar um socorro imediato ao irmão que está necessitado.
A mensagem do Evangelho é totalmente oposta a este modo de pensar e agir. O mandamento do amor deixado por Jesus, rompe com toda e qualquer forma de separação, divisão ou expressões de desumanidade: “Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). Esta é a lei que deve mover nossas relações, reconhecendo-nos como irmãos e partícipes do povo eleito e amado por Deus.
Em suas cartas, São Paulo buscou sempre ressaltar a importância da reciprocidade e do amor mútuo. O apóstolo ensina que pelo batismo somos incorporados ao corpo de Cristo e, por isso, responsáveis uns pelos outros. Num corpo não pode existir membros que vivam isolados. Portanto, para viver a unidade é preciso banir a mentira de nossas relações, tornando-nos comunicadores da verdade (cf. Ef 4, 25).
Dom Edney Gouvêa Mattoso, bispo diocesano de Nova Friburgo. Escreve neste espaço às terças-feiras.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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