Sobre as relações entre nós

segunda-feira, 23 de março de 2015

Caros amigos, a sociedade só pode existir onde prevalecem o amor e a fraternidade, que são os sustentáculos da vida em comum. De fato, ao mesmo tempo em que o ser humano empreende façanhas que desafiam a força descomunal da natureza, não é capaz de sobreviver individualmente, fora da estrutura social, das relações sociais.

Os prognósticos negativos dos diferentes "analistas da sociedade hodierna” denunciam um enfraquecimento da sociedade, tal como a conhecemos hoje. Sofremos rápidas e fortes transformações, sobretudo nas relações pessoais. Estas últimas são as engrenagens de todo o sistema.

Mas qual a questão que perpassa todas as análises? A crise não necessariamente é ruim, mas existe. Qual é a crise? Penso que o homem está em um processo social que o obriga a viver com o coração dividido, em um ativismo sem reflexão. As palavras que mais escutamos são: correria, falta de tempo, falta de dinheiro, engarrafamento, stress, competição, depressão, estafa... São sintomas visíveis da crise, mas não uma reflexão sobre seus fundamentos.

O Santo Padre, o Papa Francisco, a respeito das atividades dentro da Igreja, disse: "O problema não está sempre no excesso de atividades, mas, sobretudo, nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável e às vezes façam adoecer. Não se trata de uma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, desagradável e, em definitivo, não assumida”. (EG, 82)

Em meio a estas relações frustrantes, adoece o amor, que é vivido concretamente na fraternidade, na compaixão, na misericórdia, no serviço gratuito e altruísta, na moderação dos sentidos, na capacidade de acolhimento, na alegria, no perdão, em definitivo, na capacidade de "dar a vida pelo amigo” (Cfr. Jo 15, 13).

Geralmente estes atos de caridade são apresentados em tom caricaturesco e ridículo nesta "enfermidade moderna” em que vivemos. A filosofia do "eu tenho o direito de ser feliz” atropela muitas vidas, ignora muitos pobres e indefesos, justifica intrigas e maldades, cimenta falsas relações interpessoais e, por fim, não produz alegria, mas somente descontentamento e morte.

Nosso desafio é, portanto, que voltemos o olhar para "aquele que nos amou primeiro” e fez nossa vida reflorescer! Aprender a amar com aquele que é "manso e humilde” de coração. Só assim irradiaremos o que a sociedade precisa e seremos fatores ativos de uma revolução da ternura e da reintegração social.


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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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