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“Sereis como deuses” (Gn 3, 5)
Caros amigos, sofremos a instabilidade de uma época de grandes e aceleradas mudanças culturais. Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco, aludindo aos desafios enfrentados pela Igreja na evangelização, chama atenção para a crise gerada por uma indiferença relativista.
O sumo pontífice alerta que “na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar à aparência” (Evangelii Gaudium, 62).
O santo padre também pontua as consequências de tal situação na fé do povo de Deus: “O processo de secularização tende a reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado e íntimo. Além disso, com a negação de toda a transcendência, produziu-se uma crescente deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado pessoal e social e um aumento progressivo do relativismo; e tudo isso provoca uma desorientação generalizada” (idem, 64).
Unido à desilusão provocada pelo colapso das ideologias, cria-se um ambiente propenso à aversão a tudo o que pareça totalitário, não ficando isenta nem mesmo a certeza da salvação pela Igreja. A fim de auxiliar os cristãos que tiveram sua fé abalada ou mesmo usurpada por vãs doutrinas, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé buscou, na linha da grande tradição da fé e com especial referência ao ensinamento do Papa Francisco, esclarecer na Carta Placuit Deo – Aprouve a Deus – (22 fev. 2018) alguns pontos importantes sobre a salvação cristã, principalmente os que, diante das recentes transformações culturais, possam ser mais difíceis de se compreender.
Um dos principais pontos elencados na referida carta é o individualismo crescente. Este “tende a ver o homem como um ser cuja realização depende somente das suas forças. Nesta visão, a figura de Cristo corresponde mais a um modelo que inspira ações generosas, mediante suas palavras e seus gestos, do que aquele que transforma a condição humana, incorporando-nos numa nova existência reconciliada com o Pai e entre nós, mediante o Espírito” (Placuit Deo, 2).
Ou seja, imerso nesta forma de pensar, o homem cede cada dia mais à tentação da serpente no jardim: “Sereis como deuses” (Gn 3, 5). Certo do poder de suas forças, a humanidade passa a crer não precisar de Deus – ela se basta.
Outro ponto destacado pelo documento é a difusão da visão de uma salvação meramente interior, que suscita uma forte convicção pessoal ou um sentimento intenso de estar unido a Deus, mas sem assumir, curar e renovar as nossas relações com os outros e com o mundo criado.
“Reconhecemos que, numa cultura onde cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projeto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais” (Placuit Deo, 2). Diante disso, vale lembrar que o catecismo da Igreja Católica, ao falar da Igreja, ensina que a vocação de cada batizado atinge sua realização em comunhão com todos que assumiram a fé em Jesus Cristo, isto é, como Igreja, pois é dela que recebemos a palavra de Deus, que contém os ensinamentos da ‘Lei de Cristo’; a graça dos sacramentos, que nos sustentam no ‘caminho’ e o exemplo da santidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2030).
Ciente de sua competência de zelar pelo bem espiritual e físico de toda a humanidade, a Igreja segue seu itinerário anunciando Jesus Cristo, único e verdadeiro salvador, e denunciando toda e qualquer corrente de pensamento e doutrina que dele nos afasta.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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