Colunas
Salmo 41: Sede de Deus e saudades do templo
Caros amigos, o Ano da Misericórdia desafia-nos a sermos “misericordiosos como o Pai” (Lc 6, 36), e os salmos mostram que, na profundidade do coração do homem, imagem e semelhança de Deus, refulge também a beleza destes sentimentos do criador.
Assim começa o salmo 41: “Como a corsa suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!” (v.2). A imagem da corsa e das águas, figura dos desejos mais elevados da alma humana, recorda os sentimentos de Deus que é amor. Diz o apóstolo: “Estou convencido de que (...) nada nos poderá separar do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Cfr. Rm 8, 38-39).
Diante de um amor tão expressivo que nos atrai e seduz, nossa resposta precisa ser também a entrega completa, pois “amor com amor se paga”: “Minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo” (v.3). Entretanto, interpõe-se uma espera: “Quando terei a alegria de ver a face de Deus?” (v.3); que indica um caminho de purificação e crescimento que prepara o encontro.
Muitas são as purificações deste itinerário: o pranto e os insultos dos incrédulos (vv. 4 e 11), a saudade do templo e da terra natal (vv. 5 e 7), a tristeza (v. 6), os abismos e as águas correntes, símbolo dos pecados e dos problemas da vida (v. 8) e as dúvidas de fé (v. 10). Quem nunca experimentou uma ou muitas destas purificações? Apesar de mal recebidas, elas são importantes para restaurar a imagem e semelhança de Deus em nós.
Olhar para o próximo com misericórdia, superando as próprias misérias para socorrer o semelhante, é uma vitória que demanda tempo, trabalho e muita graça de Deus. Nestes momentos cabe a nós não deixar diminuir o “primeiro amor” (Cf. Ap 2, 4), para lançarmo-nos no desafio da experiência concreta.
Quanto bem não aconteceria no mundo se mais cristãos fossem corajosos o suficiente para tocar a carne sofredora de Cristo, presente no irmão necessitado? A misericórdia nasce do encontro com o Senhor, que muda o coração do discípulo. E Cristo está na comunidade de seus discípulos, está na palavra e nos sacramentos, está no irmão sofredor, tantas vezes ignorado e rejeitado.
Nossa Senhora torna-se o ícone perfeito da misericórdia quando toca o corpo sofredor do Senhor. Também a igreja manifesta mais nitidamente a “face de Deus” quando faz a experiência concreta de acolher os pecadores e confortar os necessitados. Seja este o nosso propósito no Ano Santo da Misericórdia.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário