Salmo 135: Hino pascal pelas maravilhas de Deus

Caros amigos, com a meditação do salmo 135, terminamos o ciclo de textos que discorrem sobre a misericórdia de Deus nos salmos, iniciado no último dia 4 de janeiro. Este hino pascal recorda os grandes prodígios divinos na criação e na história de Israel e convida-nos a rever toda a nossa vida.

A misericórdia divina é a verdadeira intérprete da história humana, pois, sob esta luz, os homens superam seus males pessoais para serem protagonistas dos atos de misericórdia. “Demos graças ao Senhor dos senhores: Porque eterna é a sua misericórdia! Somente ele é que fez grandes maravilhas: Porque eterna é a sua misericórdia!” (v. 3-4).

Na bula de abertura deste ano santo, o Papa Francisco faz a seguinte exegese deste salmo: “A misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação. O fato de repetir continuamente «eterna é a sua misericórdia», como faz o salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor” (MV, 7).

Nosso Senhor Jesus Cristo cantou com seus discípulos este salmo nos últimos momentos de sua vida (Cfr. Mt 26, 30). Ele viveu a sua paixão e morte sob o prisma da misericórdia, ciente do grande mistério de amor que se realizaria no calvário. De fato, a crueldade da condenação de um inocente precisou ser respondida com o perdão infinito de Deus, pois, de outro modo, tal violência contra o Todo Poderoso acarretaria a destruição de toda a humanidade.

Entretanto, o mistério da cruz contraria toda a lógica humana. Nele, o amor gratuito vence o ódio fratricida e quebra o círculo da vingança e do mal. Nas palavras do apóstolo São Pedro: “Cristo sofreu por vós deixando-vos um exemplo, para que sigais os seus passos. (...) Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que mortos para os pecados, vivamos para a justiça”. (1Pe 2, 21.24).

Assim, convertidos pelo exemplo de Nosso Senhor, poderemos transformar os pequenos e grandes contratempos e conflitos do cotidiano: “A misericórdia de Deus transforma o coração do homem tornando-o, por sua vez, capaz de misericórdia”. (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2016)

O tempo da Quaresma impulsiona-nos a dar um basta ao ódio vingativo, onde a violência é sempre causa de uma violência maior, para dar espaço ao perdão irrestrito: Esta é a receita para o verdadeiro progresso de nossa vida e da história da humanidade. Bom seria que depois de cada decisão de nossa vida pudéssemos também exclamar: “Porque eterna é a sua misericórdia!”.