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Resgatar a humanidade
Caros amigos, contemplando o relato da criação, percebemos o grande amor de Deus para conosco. Diz a Sagrada Escritura, que Deus ao criar o homem o fez “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26).
Como cabeça da realidade visível, o ser humano goza de uma especial dignidade, pois somente ele é “capaz de conhecer e amar o seu criador” (Gaudium et Spes, 12). Só ele é chamado a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Com este fim foi criado, e tal é a razão fundamental de sua dignidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, 356), como canta o salmista: “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratastes com tanto carinho? (...) Vos lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes” (Sl 8, 5-7).
Que honra e que responsabilidade em participar, como colaboradores, da obra criadora e na construção do reino de Deus. Pela graça recebida no batismo, somos chamados a iluminar os importantes ambientes da vida em todas as suas manifestações, desde as famílias – primeira célula da sociedade – até as estruturas políticas e econômicas, cujas ações repercutem na vida do planeta.
Todo batizado é, por natureza de seu batismo, missionário, por isso se faz necessário trazer à tona o sentido primeiro de nossa existência, querida e plasmada por Deus. É preciso relembrar a missão que nos foi confiada, sem distinção de pessoas, para assim, resgatar nossa humanidade. Quando não assumimos nossa tarefa no campo da evangelização, na vida em sociedade e na defesa do ambiente em que vivemos, as consequências serão sempre devastadoras.
O instrumentum laboris para o Sínodo da Amazônia chama nossa atenção para a crescente e insaciável sede de um crescimento ilimitado, da idolatria do dinheiro, de um mundo desvinculado de sua origem divina, a uma cultura de morte e de descarte (cf. n 17). E é nesse ambiente que devemos, com nossas ações e presença, fazer a luz de Cristo se difundir em todos os cantos onde reina a ganância, a injustiça e o desrespeito à criação.
O relato da criação também nos fala da importância da relacionalidade e da fuga do individualismo quando nos lembra que “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18). Desenvolvemo-nos como seres humanos com base em nossos relacionamentos conosco mesmos, com os outros, com a sociedade em geral, com toda a criação e com Deus. “A vida é um caminho comunitário onde as tarefas e as responsabilidades se dividem e se compartilham em função do bem comum. Não há espaço para a ideia de indivíduo separado da comunidade ou de seu território” (Instrumentum Laboris, 24).
Ciente do nosso importante papel de filhos amados, devemos sempre recordar que "o oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença” (Papa Francisco, 8 janeiro de 2019). Sendo assim, honrarmos nosso protagonismo na criação e na edificação do reino de Deus aqui na Terra, sendo partícipes do resgate da humanidade que se encontra à deriva, perdida, distante do amor do Pai.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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