O sinal de Lázaro

terça-feira, 15 de março de 2016

 Caros amigos, o Ano da Misericórdia é um tempo maravilhoso que Deus reservou para nossa conversão. E a quaresma, em seu particular acento espiritual, não pode ser vivida com menor intensidade. Entretanto, intensidade não é o mesmo que multiplicação de atividades e atos de piedade, mas corresponde a um maior cuidado e amor depositado em cada penitência e ato de conversão que nos propormos.

As obras de misericórdia, que o santo padre pediu para serem mais praticadas neste tempo de graça (Cfr. MV, 15), aparecem como um sinal contundente da particular intensidade quaresmal. Elas são irrenunciáveis em um caminho de verdadeira conversão. Ensina-nos o Papa Francisco na mensagem para a quaresma deste ano: “(As obras de misericórdia) nos recordam que a fé se traduz em atos concretos e cotidianos, destinados a ajudar nosso próximo no corpo e no espírito, e sobre os quais seremos julgados”. (n. 3)

Isto porque as obras de misericórdia “limpam nossos olhos” para enxergarmos Jesus Cristo em cada irmão e irmã necessitado. Esta é uma conversão importante para os cristãos dos dias de hoje, pois constitui um sinal profético para nossa sociedade que, por vezes, se mostra gananciosa e interesseira.

Lázaro é o ícone evangélico do pobre e do necessitado (Cfr. Lc 16, 19ss), que, à porta, recolhe as migalhas da grande mesa e tem suas feridas aliviadas pelos cães de rua. Sua presença questiona o delírio humano de onipotência, que é a raiz de todos os pecados, revela o rosto sofredor do Senhor Jesus e abre um exigente caminho de conversão e reconciliação para toda a humanidade.

Hoje, o “sinal de Lázaro” se concretiza no enorme número de necessitados sentados às portas de nossas casas e igrejas. Não há resposta fácil para este drama humano e social. Também não é pretensão da Igreja dar respostas fáceis para questões complexas, mas o Evangelho continuamente nos convida ao encontro, a quebrar as barreiras e diminuir as distâncias entre nós e nossos irmãos.

Na parábola, a distância entre o homem rico e o pobre Lázaro durou toda a vida dos dois: Lázaro não podia entrar nas festas, e o rico não o enxergava como irmão. Tal situação perdurou depois da morte: Lázaro foi para junto de Abraão e o rico, para o tormento. (Cfr. Lc 16, 22-23)

O sinal de Lázaro ensina que todos devem percorrer um caminho de misericórdia ao encontro de seus semelhantes, antes que venha o dia do juízo. Nesta ajuda mútua entre irmãos, se revela toda a beleza do Reino de Deus antecipado na Terra.

Dom Edney Gouvêa Mattoso,
Bispo Diocesano de Nova Friburgo

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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