O problema violência: ver, julgar e agir

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Caros amigos, os desejos de paz que trocamos nas comemorações de Ano-Novo ainda despertam grande reflexão em mim. Olhamos em volta e vemos, em diversas escalas, a perpetuação da violência amargar nosso país: torcidas organizadas violentas, arrastões nas praias e "rolezinhos” nos shoppings, queima de ônibus, assassinato de policiais, chacinas por vingança... São inúmeras as causas de dor do nosso povo. Não podemos fechar os olhos a estas realidades, precisamos levá-las à reflexão, para que haja também esperança de uma ação eficaz de nossa parte.

O Santo Padre, o Papa Francisco, vem recordando-nos uma especial leitura da realidade a partir das periferias da existência. Assim se expressou na 82ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais, em Roma: "Estou convencido de uma coisa: as grandes mudanças na história ocorreram quando a realidade não era vista a partir do centro, mas da periferia. Trata-se de uma questão hermenêutica: entende-se a realidade apenas se ela for olhada da periferia, e não quando nosso ponto de vista está equidistante de tudo. Para verdadeiramente entendermos a realidade, precisamos nos distanciar da posição central de calmaria e de paz, e nos dirigirmos às áreas periféricas. Estar aí ajuda-nos a ver e a entender melhor; ajuda-nos a analisar a realidade de forma mais correta, evitando o centralismo e abordagens ideológicas”. (29/11/2013).

Muitas são as teorias de pacificação, poucas as respostas aos problemas originários da violência. Muitas UPPs e pouca urbanização e infraestrutura nas favelas, muitas políticas para as "cracolândias” e pouco combate efetivo ao tráfico que acontece à luz do dia, muitas faculdades abrindo portas e pouca atenção à qualidade e administração das já existentes, muitas boas ideias pessoais e pouca vontade de unir forças num mesmo plano de pastoral...

No fim das contas, nossa sociedade é devorada pelo individualismo desta cultura do descartável. Parece que todos estão mais preocupados com a embalagem que atrai os olhares por um tempo fugaz e depois é jogada na lixeira, e se esquecem do conteúdo que perdura, das ações efetivas que atuam sobre as causas.

Louvado seja Deus por se levantarem vozes como a do nosso amado Papa Francisco, que, com grande sobriedade, revela o que todos intuímos: que nas periferias as consequências de nossa desagregação social são mais fortes, e que lá é possível observar uma linha direta que nos revela as causas do problema e as ações mais humanas e dignas para erradicá-las.


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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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