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Mudar o mundo
Caros amigos, todos acreditamos que algo no mundo precisa urgentemente ser mudado. Em todos os períodos históricos o homem sentiu interiormente esse apelo e teve a oportunidade de fazer a diferença por suas decisões. Também Nosso Senhor manifestou, através de palavras e atos, seu anseio por transformação, a começar pelo interior do homem “até os confins da terra” (Cfr. At 1, 8). Nos caminhos da história percebemos que o ser humano facilmente perde o rumo.
Apesar do século 20 ter sido cenário de grandes êxitos técnicos - transformações sociais e utopias - estes nem sempre representaram verdadeiro progresso da humanidade, uma vez que foram acompanhados por barbáries, como bem lembrou o Papa Francisco: “Enquanto o século passado foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos, hoje, infelizmente, encontramo-nos diante de uma terrível guerra mundial aos pedaços” (01/01/2017).
Nem sempre o progresso técnico coincide com o progresso do ser humano. De fato, o elemento mais importante para a mudança do mundo não é a última descoberta da ciência ou a abundância de recursos naturais e até mesmo financeiros, mas a transformação do próprio coração humano. Continua o Santo Padre: “O próprio Jesus viveu em tempos de violência. Ensinou que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o coração humano: ‘Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos’ (Mc 7, 21)”(Idem).
O mundo é construído a partir de nossas decisões individuais, mas não podemos esquecer que ele se apoia na insistente e constante paciência salvadora de Deus, que quer que “todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 4). A bondade de Deus sustenta e incentiva todas as possíveis bondades humanas. Sendo o coração o campo de batalha mais importante; persistindo no desejo de melhorar o mundo, o que poderíamos fazer? Jesus Cristo, Nosso Salvador, aponta para o que realmente faz a diferença quando diz que “se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre produz muito fruto” (Jo 12, 24). Esta não é uma frase solta no Evangelho, mas constitutiva da missão do Salvador entre nós: “Foi precisamente para esta hora que eu vim” (v. 27).
Cabe, entretanto, perguntarmo-nos se realmente cremos nessa proposta, se cremos no crucificado a ponto de imitar seu exemplo, se percebemos - na doação da própria existência - a fecundidade divina que pode mudar o mundo. Como afirmou o Papa Bento XVI no início de seu ministério pontifício: “Não é o poder que redime, mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte. Que atingisse duramente, vencesse o mal e criasse um mundo melhor. (...) Nós sofremos pela paciência de Deus. E de igual modo todos temos necessidade da sua plenitude. O Deus, que se tornou cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo crucificado e não por quem crucifica. O mundo é redimido pela plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens” (14/04/2015).
Mudar o mundo começa na mudança de nós mesmos. Precisamos, pois, retomar o lema do discipulado transformador: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23). Sem dúvida, um mundo feito de verdadeiros discípulos será diferente e melhor do que vemos hoje.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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