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Luta contra a idolatria
terça-feira, 06 de agosto de 2013
Caros amigos, há uma afinidade bíblico-litúrgica entre o tempo quaresmal e o deserto: a caminhada do povo de Deus por quarenta anos e o jejum de quarenta dias com suas noites feito por Jesus são comumente evocados como modelo e inspiração para o tempo litúrgico que estamos vivendo, ambos acontecidos no deserto.
A relação de ideias que geralmente fazemos com o deserto é a solidão, a aridez, a fome, a provação... Entretanto, apesar da presença de todos estes elementos, na Bíblia o deserto é sobretudo lugar do encontro com Deus (cfr. Os 2,16; 13,5). No deserto o povo de Israel conheceu o seu Deus e a Aliança do Sinai é o grande expoente deste encontro.
Também é no deserto que aparece um dos mais persistentes inimigos do povo fiel: a idolatria. Por esta prática abominável aos olhos de Javé, o povo de Deus desviou-se muitas vezes de seu fim último e transformou "o caminho para a terra prometida” em simples deserto de solidão e ocasiões para o mal.
A idolatria é um caminho fácil, pois procura um "deus controlado”, medido, calculado: um "deus” feito à imagem do homem. Enquanto que a fé no Deus verdadeiro é um caminho mais difícil, pois vai ao encontro de um Ser que não se molda a meus desejos, mas que indica o caminho da felicidade na minha plena identificação com Ele. O Deus Verdadeiro é o grande Outro que se coloca a minha frente e me interroga, questiona meu modo de ver e fazer as coisas.
Hoje é muito comum encontrarmos lugares onde se prega uma divindade à medida dos caprichos do fiel. Um "deusinho” feito à imagem do homem, como um produto criado à medida do cliente, que promete fortuna a seus adoradores, mas não se compromete com o sofrimento nem com as questões mais fortes da nossa existência e sociedade.
"A adoração do ídolo”, ensinava o papa Bento XVI, "em vez de abrir o ser humano à Alteridade – a uma ação libertadora que o permita sair do espaço limitado do egoísmo pessoal e ter acesso às dimensões do amor e do dom recíproco – fecha-o no ciclo e desesperador da busca de si mesmo” (15/06/2011).
Que triste é o caminho daquele que, no deserto desta vida, busca e encontra somente sua própria miséria: seu desejo de ter, de ser e de poder... Jesus Cristo, que sobe para Jerusalém para dar-se ao mundo de braços abertos, mostra o autêntico caminho da salvação: o amor. "Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9, 23). Qual é o caminho que queremos seguir: o de Deus ou o dos ídolos?
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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