Homenagem a Dom Eugênio Sales

Meus caros amigos, dedico com profunda gratidão esta reflexão a um grande e fiel pastor da Igreja Católica: Dom Eugênio de Araújo Sales, Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, falecido no último dia 9 de julho.

Tive a oportunidade de uma convivência muito próxima com este homem de Deus que concedeu-me a graça da ordenação sacerdotal e com quem aprendi o valor de querer em tudo agradar a Deus e não aos homens.

Pensar em Dom Eugênio, para mim, é o mesmo que pensar na fidelidade a Deus e à Igreja. Fidelidade ancorada em um coração bondoso e paternal que corrigia e acolhia com a mesma intensidade, cheio de fé, e que atraía, por onde passava, a admiração de seus diocesanos.

Por muitos anos, quando não havia acesso à internet nem existiam os canais católicos de televisão, a voz de Dom Eugênio já ecoava por todo o Brasil como uma palavra da Igreja para todas as circunstâncias concretas pelas quais passava nossa história. Também antes que fosse organizada, pelo beato João Paulo II, a edição do Catecismo da Igreja Católica, Dom Eugênio já era referência segura da doutrina da Igreja e da voz do Santo Padre.

Nos tempos difíceis da Ditadura Militar do Brasil e dos demais regimes totalitários da América Latina, Dom Eugênio foi também um dos muitos bispos que abrigava os injustamente perseguidos, chegando a abrigar mais de 4000 refugiados no período de 1976 a 1982. Estava no primeiro movimento de reflexão e ação que originou a nacionalmente conhecida, desde 1964, Campanha da Fraternidade. E muitas outras obras e iniciativas que estão amplamente documentadas.

O lema episcopal de Dom Eugênio, extraído da 2ª Carta de São Paulo aos Coríntios: “Impendam et superimpendar”: gastarei e gastar-me-ei ainda mais (IICor 12, 15), revela algo mais sobre este pastor zeloso, que bem pode levar-nos todos a um exame de consciência sobre nossas obras diante de Deus: contra toda a lógica do mundo que nos impele ao egoísmo e defesa dos próprios interesses, o evangelho nos convida a dar a vida pelos que Deus nos confiou, nos convida a gastar-nos. Esta é a vontade de Cristo e o coração de seu evangelho; este é o caminho para parecer-nos mais com Ele; este foi o ideal de vida do Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales e deveria ser também o ideal da existência de todos nós. Para nós é importante um exemplo tão claro da coragem de gastar-se por Deus e pelos irmãos. Ele, que certamente já ouviu do Senhor Jesus: “Servo bom e fiel, entra na alegria do seu Senhor” (cfr. Mt 25,21), interceda por nós!