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Governo itinerante
Caros leitores, nos últimos meses concentrei meus esforços em um laborioso empreendimento, que consistiu em visitar os Vicariatos mais distantes da Sede de nossa Diocese de Nova Friburgo. Como Bispo Diocesano, procurei ir ao encontro de muitos fiéis com os quais, salvo raras ocasiões, teria oportunidade de me reunir. A esta empresa chamei “Governo Itinerante”.
Em uma destas idas e vindas pelas paróquias de nossa Diocese fui questionado a respeito deste nome. Diziam-me que a realidade de encontro e cordialidade que experimentamos nestas datas não correspondiam ao peso e desgaste que carrega a palavra “Governo”...
Aproveito, então, este nosso espaço semanal para um convite à reflexão sobre o verdadeiro significado de “Governo”.
Esta palavra tem origem no verbo latino gubernare, cujo significado mais originário dizia respeito à condução de embarcações, e posteriormente à condução de pessoas. Ao refletir sobre as funções de governo e seu uso hoje, tenho que concordar que seu significado está corroído pelas más interpretações e deficiências de seu exercício que a história testemunha.
Nosso Senhor Jesus Cristo certa vez disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam” (Mc 10, 42), apontando o erro existente no abuso do poder de governo, e completa o Senhor: “Mas entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (vv. 43-45).
É inegável que o serviço de conduzir acarreta o dever de coordenar ações e pessoas, e que o respeito é importante em todo o processo organizativo, mas nem por isso governar deixa de ser um exigente serviço. Cristo nos deixou o exemplo, pois mostrou com sua vida que Deus governa abaixando-se e impondo-se uma servidão de amor para com a criatura amada (cfr. Fp 2,6-8).
Nestes tempos próximos às eleições de nossos futuros governantes, esta reflexão é importante. Governo é necessidade do todo e, portanto, serviço que exige trabalho, renúncias e produz cansaço. Este último é o fruto mais prematuro do trabalho, mas é também necessário. Talvez outros colherão os melhores frutos de nosso serviço, mas fica sempre a serena alegria do dever cumprido. Esta é a diferença entre a retidão de intenção e a autopromoção egoísta do que só quer a permanência e o mau uso do poder.
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Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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